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A Sorte da Raposa

Partilha de emoções, experiências, reflexões ❤

A Sorte da Raposa

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Lista de desejos

30.12.19, Dulce Ruano

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Quase no final do ano no calendário, aproxima-se o novo ano, altura de se fazer a lista de desejos, ou não, há quem nem sequer pense nisso, a vida simplesmente continua, na verdade é isso mesmo, que difere o 31 Dezembro para 1 de Janeiro, nada, é só mais um dia, mas em termos temporais temos de o validar como uma nova etapa na vida, celebramos individualmente mais um aniversário e teremos certamente imensas histórias a acontecer nas nossas vidas, boas, menos boas e objectivos a cumprir.

Confesso que já me passou pela cabeça não fazer uma lista, deixar a vida rolar, simplesmente acontecer e isto agrada-me bastante por outro lado se fizer uma lista e lhe der a devida importância pode ser um bom meio para alcançar o que me proponho e está decidido, vou fazer uma lista com 12 desejos.

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Acho que não nos devemos manifestar sobre o que pretendemos, o melhor é guardar para nós, não vá alguma bruxa maléfica se meter no caminho, fazemos a lista por escrito para que a nossa consciência comece a reter o que queremos e depois lutamos para conseguir. Pois, esta parte deve fazer alguma confusão nas pessoas, é que os desejos não caem do céu, temos que ir atrás, fazer por chegar ao que queremos, irmos em busca, insistir, persistir e nunca desistir, quando se quer muito consegue-se.

Apesar de não partilhar a minha lista de desejos, manifesto um em particular, não quer dizer que seja o primeiro, o último ou o do meio da lista, é apenas um desejo como qualquer outro. 

Tenho este blog há um mês, andava na gaveta (ou melhor, andava nas listas dos desejos) há quase três anos, tenho tido retorno maravilhoso das pessoas que me lêem, sei que não agrado a todos mas sei que agrado a muitos e são esses que eu agradeço e muito por me lerem, por me seguirem, são os melhores, disso não tenho dúvida mas preciso de mais e deixo um pedido, subscrevam o blog, muito fácil, entram lá e no final encontram a imagem em baixo, é só deixar o vosso mail, validam e já está. Grata 

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Desejo a todos um ano bom o suficiente para se sentirem felizes mas terão de fazer por isso, pois a felicidade também não cai do céu, faz-se por a ter. Sejam gratos. Eu sou por vos ter 

 

 

Conhecer aldeias

29.12.19, Dulce Ruano

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Viver no interior é um previlégio em muitas coisas noutras nem por isso, só de pensar em viajar de avião por exemplo até me dá um arrepio com o tempo que se leva até chegar a um aeroporto, por outro lado valorizo em muito o que tenho à minha volta e vejo tudo isso como um potencial a descobrir, a viver, a sentir.

Uma das coisas boas que temos no meio de tantas e tantas, são as aldeias históricas de Portugal: Almeida, Belmonte, Castelo Mendo, Castelo Novo, Castelo Rodrigo, Idanha-A-Velha, Linhares da Beira, Marialva, Monsanto, Piódão, Sortelha e Trancoso. Todos sabemos que para além destas doze aldeias temos tantas outras que não estão aqui representadas mas que são tão bonitas quanto estas, carregadinhas de histórias e de lugares de uma beleza deslumbrante que nos levam a sentir emoções do que se por lá passou noutros tempos, as batalhas, as conquistas, as vidas quotidianas das suas sociedades.

Aventureira, com uma necessidade incessante de conhecer lugares e gentes, ter estas aldeias aqui tão perto seria ímpensável não as conhecer, há lugares que conheço desde muito pequena, outros fui visitando e alguns destes lugares já visitei diversas vezes, no entanto uma destas aldeias nunca tinha ido, imperdoável mas são coisas que acontecem e não se explicam.

A que faltava visitar era Marialva, tanta vez que meu pai me falava que era tão bonita (não fosse ele suspeito em dizer isto, também gosta tanto quanto eu destas coisas) ainda assim eu dizia sempre "um dia destes temos de lá ir, estou cheia de curiosidade em conhecer", mas ando sempre nas minhas lides de conhecer outros lugares e nem sempre há tempo para se ver tudo o que se tem na lista, até que decidimos visitar.

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Ia cheia de expectativa, o dia estava repleto de sol quentinho apesar do inverno se ter instalado, à medida que nos iamos aproximando, o céu acinzentou de tanta neblina, achava que logo levantava e ia ver Marialva repleta de sol, atravessámos a aldeia, subimos até à zona do castelo, havia muito frio, nevoeiro e cor cinzento.

À medida que subiamos a pé na direção do castelo e das casas pitorescas em redor percebi que já ali tinha estado, não acreditaram em mim, diziam-me que estaria a fazer confusão com algum lugar parecido mas a minha memória visual cada vez me dava mais crédito à minha certeza.

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Cheguei a um lugar que não tinha dúvida nenhuma, já ali tinha estado e lembrava-me de tudo, só não sabia a que propósito, lembrava-me que passei por lá de caminho vindo de algum lado, não sabia de onde, descrevi a estrada à chegada e estava um calor insuportável, teria sido no verão. No final da visita lembrei-me que tinha lá ido parar vinda de um festival de rock em Mêda, ali perto e esse festival foi em Julho, daí o calor, daí a direção de onde tinha vindo.

Tive vontade de pensar que tinha sido um desperdicio de tempo ter lá ido uma vez que conhecia tudo, porém como sou positiva no que me acontece senti que valeu muito a pena ter ido ver de novo, mas que foi um "galo" lá isso foi 

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Por ali nos arredores descobri outros lugares, remotos, esquecidos, gostava tanto que as pessoas visitassem estas aldeias, estes lugares que são tão especiais, levam-nos o pensamento e a imaginação para coisas que ali se passaram, sentem-se os cheiros, as algazarras e também o silêncio, as noites escuras, as lutas, o poder, as conversas, os homens, as mulheres, as crianças, tanto que sente nestes lugares 

Visitem, precisam de apoio? contactem-me, será um gosto. Tenho a lenda de Marialva, para quem quiser saber, a lenda da dama com pés de cabra 

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Não foi preguiça, foi vontade de não fazer nada

27.12.19, Dulce Ruano

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Há dois dias iniciei a leitura de um livro que Cila me emprestara - Obrigada querida Cila :) um policial. Confesso que quando me foi entregue fiquei a olhar de esguelha para o título "O caminho do inferno", pela aparência não parecia ser o meu estilo de leitura, no entanto fui educada a aceitar o que me dão (o que faço depois é comigo) e ao longo da vida eduquei-me a mim própria a aceitar novas experiências pelo que senti alguma expectativa em ler um policial apesar das 389 páginas, uffff, tantas!

Desde o inicio, cativante, Cila tinha dito, de tal forma que a primeira leitura aguentei três horas, na segunda umas cinco mas como me encontro em casa de baixa médica a recuperar do braço partido, faço questão de não ter rotinas pelo que não estava minimamente preocupada que fossem três da manhã.

Visto o meu relógio biológico ainda não ter entrado nos novos horários, acordei bastante cedo ao ponto de ajudar a acordar marido e filhos a irem para as suas rotinas, deram-me pena porém achava espetacular poder ficar em casa e voltar para a cama dormir mais um pouco.

Aconchego-me ao edredão, ponho o braço do gesso de forma confortável e um íman atraíu a minha mão disponível para o livro, achei incoerente, deveria descansar, no entanto pensei que só lia uns três capítulos e logo me deixaria dormir.

Recostei umas almofadas para ficar mais cómoda, acendi a luz do candeeiro, mantive as persianas fechadas e de certo modo ansiava para começar a ter sono. Tinha de dormir.

Os capítulos voavam, passara uma hora logo a seguir duas horas e comecei a sentir fome mas sabia que ir comer faria uma quebra na leitura, mantive-me até não aguentar mais a bexiga que insistia em aliviar, levantei-me, passei pela casa de banho e muito rapidamente fui à cozinha, pego num iogurte de sabor a côco, cortei um maracujá ao meio, misturei a polpa e corri para o quarto com o pequeno-almoço.

Pus-me a jeito para a leitura e comi rápido, ia ler só mais um bocadinho e me levantava, sabia que já não dormia mais, aproveitando a oportunidade de estar sozinha e sem compromissos deixei-me estar, devorei as páginas incessantemente.

Nunca consegui ficar na cama até tão tarde, bati o record e não era de preguiça, era mesmo do "deixa-te estar, é a tua oportunidade". Eram 13:30H, parei de ler, estava de novo com fome. Mantive-me de pijama, de robe o que é raro, prendi uma mola no cabelo, calcei umas meias, sentia-me desleixada mas era por opção, sei que não vai acontecer tão depressa.

Enquanto o comer aquecia fui à rua sentir o calor do sol, derreti-me a olhar para o meu cão, estava deitado à entrada da casa tal qual um cão fiel, adoro abrir a porta e vê-lo, agora já não foge como antes, assim que me viu bateu com o rabo rijo sobre o chão como se fosse um chicote, sem parar enquanto falava com ele.

Entrei, pus o prato num tabuleiro e fiquei indecisa se iria comer para o sofá da sala a ver televisão ou se iria ler um livro do tio Patinhas, optei pela televisão mas não vi nada, preferi saborear a comida e sentir a liberdade que nunca tenho de não fazer nada!

Quanto ao policial, mais meia hora e ficaram arrumadas as 389 páginas. Dia único este!

Em queda livre

23.12.19, Dulce Ruano

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23 de Dezembro e não escrevo sobre o Natal, talvez escreva outro dia mas hoje não, hoje faz um mês que a uns oitenta centimetros do chão me desequilibrei e caí de costas em queda livre, estatelada, ali, no chão de tábuas. Antes de chegar ao chão o meu pensamento focou-se nas costas que há tantas semanas me doíam, chego ao chão tipo de um cartoon, de chapa, um braço para cada lado, o corpo não doeu em nada, porém o meu pensamento sai das costas diretamente para o meu braço esquerdo, senti que tinha partido, levanto-me de imediato e agarro no pulso, vi-o a encolher e a torcer-se, senti uma tristeza enorme naquele momento 

As dores chegam, a azáfama de procurar ajuda médica de emergência, alguém fala em chamar uma ambulância, apavorei só de pensar no tempo que iria levar sabendo que podia ir no meu carro e fui, pedi que ligassem os piscas todos do carro, pedi emergência!

No hospital senti nos primeiros momentos que era uma paciente como se fosse com uma ligeira indisposição mas pouco depois o meu aspecto mostrou que precisava de assistência urgente.

As dores estavam ímpossiveis de aguentar ao ponto de as deixar de sentir por serem tão fortes, sentia-me a desfalecer, não conseguia falar, não abria os olhos, ouvi um enfermeiro: "Ahh vamos já pôr um catéter e administrar um medicamento um pouco mais forte que a morfina e ela ja vai deixar de sentir as dores", em seguida apaguei-me totalmente.

Quando comecei a despertar e ainda debaixo do efeito daquela poderosa dose não percebia onde estava mas muito devagarinho recuperei, passado um pouco vem uma senhora que também estava nas urgências ter comigo e diz-me "olhe menina agora já estou a gostar da sua cara, nota-se que está melhor é que há bocado parecia uma defunta, as melhoras", aqui é que percebi o aspecto que eu teria tido, aquelas figuras que saem ao natural, são tão reais que é ímpossivel emitar (defunta?!) possas!

No primeiro RX gritei que me fartei  a senhora queria que eu pusesse o braço numa posição que lhe dava jeito mas a mim não me convinha nada, tentou ser simpática mas não sabia ser, senti-a um pouco desengoçada mal eu sabia que tinha de lá voltar.

Radio partido e osso esmigalhado e não é que vem o senhor doutor acompanhado por um enfermeiro, levam-me para uma sala, fecham as cortinas e puxam pelo polegar assim sem mais nem menos, epá! gritei, gritei até que não dava mais, parecia que me iam matar, achei que estavam os dois loucos, eu só queria sair dali, abriram a cortina e voltei a novos exames, o osso não tinha ido ao lugar, só aí percebi o que eles queriam ter feito, é que o osso não ter ido ao lugar significava uma ida ao bloco operatório!

Fui uma sortuda, bloco liberado, anastesista à espera e um ortopedista disponivel para mim. Uma senhora veio-me buscar e preparou-me, tirou-me a roupa toda antes fiz alguns exames, estava prestes a ser operada e eu só pensava que tinha saído de casa de manhã com um proprósito que nada tinha a ver com aquilo que estava a viver. Entro na sala de cirurgias. 

A equipa foi fantástica, carregados de humor, de cumplicidade e quando dei por mim estava na sala do recobro, foi horrível, tinha frio, tremia muito, imensas dores, o acordar da anastesia com o abre-fecha dos olhos, o consciente a querer chegar, ali foi um momento de sofrimento muito complicado de gerir, de suportar mas verdade que nos momentos certos aparecia um anjo de um enfemeiro que adivinhava tudo o que eu precisava, anjo que não sei o nome. Obrigada Anjo pela almofada, pelas doses para atenuar as dores, pelo carinho, pelos telefonemas para resolver sobre as lentes que ainda tinha, pois, operada com lentes nos olhos, então eu lembrava-me lá agora que as tinha, eu sabia lá agora quando saí de casa de manhã que ia ali a parar.

Quase às dez da noite levam-me para uma enfermaria, perfeitamente estabilizada, quase sem dores, estava tranquila, estava bem, senti-me confortável, passei uma noite fantástica, só queria era dormir e fez-me tão mas tão bem dormirzzzzzzzzzzzzzzzz......

A sorte da raposa é isto, fui uma sortuda, se partisse uma perna seria pior, se fosse o braço direito seria pior, se não tivesse caído ainda hoje me doíam as costas, todos se disponibilizaram para mim e tanto precisei = Grata a todos 

Esta queda foi um sinal de que tinha de parar o ritmo de vida, demasiada actividade, meu corpo dava sinais, não o quis ouvir até que fez uma birra que se fez ouvir e disse: "Finalmente páras", o meu corpo tinha razão.

Agora sempre que ouço alguém a queixar-se das costas digo de imediato: "cai em queda livre de costas que isso passa

Não comeu por falta de colher

21.12.19, Dulce Ruano

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Entre amigos dá-nos de vez em quando a parvalheira de trocar mails com futilidades, momentos de desaire, pequeno break, é como se fosse um momento terapêutico, dura pouco, é de minutos e de pouca frequência, rimo-nos em grupo à medida que lemos cada mail e de forma individual.

Assim de repente e motivado por algo básico manda-se mail, basta uma palavra, uma expressão e dá-se inicio a uma troca de mensagens até que alguém começa a desistir porque temos todos mais que fazer, momento parvo mas provoca-nos descontração, sabe-nos bem.

Há uns dias estava em modo “desespero”, o que é que faço hoje para jantar? Mandei mail a perguntar qual seria a ementa que iam ter esse dia, que belo brainstorming, funcionou muito bem e todos ficaram com ideias do que fazer para jantar (nem que fosse ir a casa dos sogros eheheh) correu tão bem que no dia seguinte voltámos a trocar idéias para nos safarmos da preocupação do "ter que pensar em fazer alguma coisa mas estou sem cabeça para tal", começou logo a descambar, de tal maneira que os mails saltitavam desenfreados da caixa.

Alexia Pevides decide contar como tinha sido a refeição dela com a família onde se alongou dizendo que no fim de comer todos lá em casa se sentaram no sofá a ver a transmissão do festival da canção para apurar os finalistas.

Portugal representado por Conan Osiris com o tema dos telemóveis (nunca cheguei a perceber o teor da letra mas também porque nunca me interessou) e sua caracterização tão própria com a máscara que mais parecem umas colheres, caso para se dizer "do que ele se foi lembrar", só por isto já ganhava qualquer coisa!

Em resposta ao que Alexia Pevides nos mandou, recebemos mail do colega Pinotes Barbosa que dizia seguinte, e passo a transmitir através de copy paste:

“Opá...ontem quando ia comer uma sopa de tomate (prato de fundo vermelho com água) e não encontrei as colheres, liguei a televisão e vejo lá um gajo a cantar com as minhas colheres coladas nas bochechas….já não comi mais nada.”

Bem, pára tudo! A inteligência humorística de algumas pessoas é de uma fasquia tão alta e  brutal que fico embasbacada, faço uma vénia à sua passagem, humor refinado, o quanto admiro, este humor não se produz à toa mas é caracteristico de Pinotes Barbosa.

Uma sopa de tomate, quem é que no seu dito normal se lembra de uma sopa de tomate?! Em que diz que afinal aquilo até era um prato de fundo vermelho com água! depois as colheres desaparecem e de facto por influência do festival da canção e da máscara do Conan Osiris ele achou as colheres nas bochechas do cantor, assim, não comeu nada e a fome que passou? Ahhh pois Pinotes Barbosa, levaram-te as colheres mas também não tinhas sopa de tomate.

 

Benditos momentos

17.12.19, Dulce Ruano

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Benditos momentos maravilhosos que fazem parte da minha vida!

Estou no shopping ShopFood (não se chama assim mas faz de conta) duma cidade que não é a minha, aproveitava a oportunidade de ter ido com uns amigos para passar tempo, compras não estavam nos meus planos.

Tenho uma nova amiga nesta cidade (daquelas que se ganham quase por um olhar), tanto me pede para ir visitá-la porém a ida àquela cidade estava confinada às compras dos meus amigos pelo que para nos vermos teria de ir ela ter comigo, por um lado custava-me pedir-lhe que fosse lá por outro lado não iriamos ficar tanto tempo que se justificasse a sua deslocação.

Nesta hesitação e quase no fim das compras dos meus amigos decidi ligar-lhe nem que fosse só para a chatear do tipo "estou por cá mas quase para ir embora, um dia destes já nos vemos", ela atende e pergunto: "Então onde andas Kirka" ela responde muito prontamente como se fosse normal eu lhe perguntar onde anda: "Estou no ShopFood", duma forma automática levantei o braço com o telemóvel na mão (o outro braço anda empenado), aceno várias vezes e ela falava sem perceber que eu não ouvia, é que naquele exacto momento que diz onde estava, olho em linha recta e vejo-a a cinquenta metros de mim, PÁRA TUDO!! mas..mas...alguém me explica como é isto possível? Aquele forte abraço, aquela risada, aquela cumplicidade, aquele comentário "isto só podia ser conosco, tem mesmo a nossa cara" foram inevitáveis. 

Somos de facto todos abençoados por estes momentos maravilhosos que fazem parte de nós e acontecem a quem acredita neles. Foi tãoooo fixe. Gostei Kirka. Sei que gostaste. 

 

Coincidências com Lemmy e Zé

14.12.19, Dulce Ruano

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Passava um dia aborrecido, nem estava bem, nem estava mal, depois de tirar o gesso, inchou o braço e a mão, teria que ter um cuidado redobrado, não fazer mesmo nenhum (o problema é eu conseguir estar quieta), sabendo que tinha de descansar decidi não fazer nada, acabei por fazer pior, não sabia não fazer nada e entrei em tédio.

O dia era entre a cozinha, a sala, o sofá, a lareira, nada mais. No computador, como sempre rodáva o site da Rock FM.

Num momento à lareira, tentava ler o livro que estava longe de me cativar, pousei-o e peguei no telefone, vasculhei uma rede social e dou com uma noticia dum site qualquer que me chamou a atenção "Zé Ramalho canta ás de espadas", não conhecia este cantor mas a tradução à letra de "ás de espadas" soava-me a "Ace of Spades" do carismático Lemmy, dei um clic na noticia e ver que era aquilo, soou a algo tão rasca que nem ouvi tudo, música original mas com a letra cantada em português/brasileiro, ainda assim continuei com a curiosidade, fechei o site, fui ao computador investigar.

Assim que pouso o telefone continuo a ouvir a música mas o original, estremeci, apurei os ouvidos, os sentidos e tentei perceber que se passava comigo ou se seria o fantasma do Lemmy chamado por aquela versão ter sido entoada, aliviei, era o original sim mas que passava ao mesmo tempo na Rock FM.

Fiquei encantada com esta coincidência  Feliz por este momento  

Da investigação que fiz saiu-me uma nostalgia que tem esta história: Zé Ramalho é um cantor brasileiro de setenta anos e parece que muito famoso (desconhecia totalmente), primo de Elba Ramalho, indíviduo carismático e com ares de quem arrasta multidão, continuei a pesquisa e percebi que é o autor da música "Mistérios da meia noite" que serviu para a novela Roque Santeiro, xiiii que saudade me bateu, adorava esta música, na altura era o que nos entretia, as novelas brasileiras, agora nem vê.las sejam lá elas de que terra sejam, arghhhh.

Feliz pelo momento, feliz pela descoberta , sabe-me tão bem ouvir o Lemmy com "Ace of Spades" como o Zé Ramalho com "Mistérios da meia noite" e nada mas nada tem a ver um com o outro, parece que na idade têm a ver, se Lemmy fosse vivo, mas quem o manda morrer?

Medronhos

10.12.19, Dulce Ruano

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O lugar onde nasci, isto é, o lugar para onde fui viver três dias depois de nascer, era uma quinta muito grande, com um horizonte enorme, vistas que não acabavam, lugar que me deu espaço a correr, saltar, trepar árvores e comer fruta até cair para o lado, lugar que me deu espaço à imaginação, à fantasia, ao sonho, à ambição, mas apesar de todo este espaço, sentia uma necessidade enorme do que estava para lá do horizonte e não sabia bem o que era.

Havia poucas crianças perto da quinta, e as poucas, uma ou duas eram um pouco mais velhas que eu e passavam mais tempo a fazer tarefas que os pais mandavam do que propriamente brincavam, sentia falta disso porém tinha tantas e tantas outras coisas para fazer naquela quinta, tive uma boneca ou duas nem me lembro muito bem e sei que lhes fazia roupa para andarem bem vestidas, os trapos que usava eram meias que por alguma razão não tinham par e de uma fazia um top, uma saia e um toca.

Em frente à casa, num socalco abaixo, havia uma figueira que parecia ter nascido dum muro de pedra muito alto e que dava para outro socalco mais abaixo, apanhava os figos mas sempre com os olhos esbugalhados nas pedras do muro sabendo que devia por ali haver uma colónia de cobras, Brrrrrr, só de pensar estremeço....

Por cima desta figueira, estava no centro do terreno um enormissimo medronheiro corpulento, o ano inteiro havia fruta na quinta porém se no Verão tinha os pêssegos, as cerejas, os abrunhos, e tantas outras, no Outono tinha as maçãs, as pêras mas a chegada do Inverno limitava em muito a diversidade, tinha o medronheiro e pouco mais, de vez em quando ia ter com ele, estava mesmo ali à mão e apesar de os medronhos não serem bem o meu forte apanhava-os da árvore até me fartar.

Ir ao medronheiro tinha sempre dois inconvenientes, um era que qualquer adulto que me visse junto à árvore, fosse quem fosse, reprendiam-me logo com: "não comas isso que te faz mal à barriga e se comes muitos embebedam-te" epá passei anos a ouvir aquilo, às vezes não queria saber se ficava alcoolizada ou não, comia os que me apetecia por outro lado sabia e isso tinha a certeza que me fariam mal à barriga (era a única fruta em que me controlava) pelo que acabava por olhar à quantidade que comia.

O outro incoveniente, este era o pior, é que os medronhos caídos no chão e já bastante maduros eram às centenas, estavam por todo o lado, não havia espaço livre para pôr os pés, esborrachavam-se, só me fazia lembrar o cócó amarelo dos bébés. Ficava agarrado ao calçado de tal maneira que aquilo metia-me um nonjo do caraças, blarghhhhh.

Atualmente tenho no quintal cinco medronheiros (loucura) um já com um porte jeitoso, os outros ainda pequenos. O maior que já dá muito fruto e parece que caem constantemente para o chão provocou-me esta nostalgia, não comi nenhum medronho mas fiquei com as sapatilhas completamente borradas de cócó amarelo de bébé, arghhhhhh, só parecia que tinha voltado uns anos atrás na minha vida de tal maneira que naquele momento ecoaram vozes "não comas isso que te embebedam"... 

Cabelo rebelde

08.12.19, Dulce Ruano

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Andava numa fase estranha com o cabelo, verdade que deixou de ter aquelas pancadas que tinha na fase dos vinte e poucos anos, era definitivamente um cabelo rebelde, na altura fez-me sofrer, andei muitos anos sem perceber o que queriam esta quantidade enorme de fios, ora deixava crescer, ora cortava, ora uma cabeleireira deixava fugir a imaginação, enfim, de tudo me aconteceu, até uma vez, isto ainda antes dos dezoito anos pedi que cortassem as pontas e ao secar que dessem uns jeitos para ficar com uma leve ondulação, epá! Maldita hora! Só me deu vontade de apertar as ventas da senhora, então não é que me fez uma “permanente” como as velhas (na altura achava eu ehehe), quando dei conta do processo dos caracóis entrei em pânico e como se não bastasse deixou-me o cabelo todo queimado, pior ainda, estava às portas de um grande casamento do meu tio Zaca, arghhhh, morri!

Fui ao casamento com um penteado tipo recruta, levantei uns pelitos com o gel mas imagine-se a minha frustração, aperaltada com um fato feito à medida por um estilista que custou os olhos da cara da minha mãe, sim, foi uma pequena fortuna e a minha mãe andou virada do avesso, eu sei que andou, paciência, era a compensação da desgraça do cabelo, a verdade é que as pessoas olhavam para a minha vestimenta, era de facto lindo e original e ao mesmo tempo olhavam para o meu penteado á recruta e lá ia explicando o acidente tido no cabeleireiro, as pessoas, ah! Pois, ai coitada e tal e tal, andei derrancada, pois ansiava tanto pelo casamento!

O certo é que depois das gravidezes os meus cabelos começaram a acalmar e tentar levar um rumo, até que decidi de uma vez por todas que o melhor era o cabelo comprido e direito nada cá de escadeados que não me ajuda em nada, mas nadinha mesmo por mais que insistisse.

Até há pouco tempo ai de mim que saísse à rua sem esticar o cabelo, mais calmo mas continuava desgovernado, passava torturas com o secador e escova na mão, até que agora já arrisco de vez em quando sair sem o esticar mas tenho de ver bem a minha agenda nesse dia não vá ter algum compromisso que fuja à rotina!

Durante muitos muitos e muitos anos usei um shampoo bastante conhecido, (claroquenãovouaquidizeramarcasenãotodaagentevaicomprareamarcanãomepagaparaisso) mas agora decidi que não ia comprar mais até porque sou defensora de algumas marcas bem mais baratas e eficazes (em diversos casos), optei por uma marca mais económica mas ao contrário do esperado deixou-me o cabelo bastante seco o que não me agradou de todo e iniciei uma fase de experiências.

Como pratico desporto regular e opto por tomar banho no balneário, epá eu não vejo mal nenhum nisso mas há pessoas que vêm, pffff, costumo trazer na mochila do equipamento uns pequenos frascos de gel de banho e shampoo, mas uma vez no stress do shampoo#fase de testes acabei por não o levar, fiquei danada, fico sempre danada quando falho em alguma coisa e mais danada fiquei porque tinha o jantar com os colegas de treino de atletismo e ia directo para o restaurante além do mais o meu cabelo estava uma vergonha tinha mesmo de o lavar, MAS EU NÃO LEVAVA SHAMPOO E O MEU CABELO ANDAVA SECO, PRECISAVA DE SER TRATADO! Aiiiii o que é que eu faço??!! Ao mesmo tempo pensava que haveria de haver sempre alguém conhecido a quem pedisse um pouco, usava mesmo só um bocadinho (do bom ou do mau, tinha de me sujeitar) e lá fui para o balneário super confiante.

À sexta-feira há poucos atletas, de forma geral andam por lá as senhoras da ginástica mas que para mim estaria bem, cheguei e estavam duas em que uma é um bocadinho distraída (vamos conhecendo as pessoas por convivermos tanto com elas) e ela já a vestir o casaco perguntei-lhe “olhe, desculpe por acaso a senhora tem shampoo que me empreste?” ela diz “ahh não, sabe é que eu nunca cá tomo banho mas olhe, veja ali com aquela senhora que está debaixo do chuveiro que deve ter”, senti-me parva, então não era para ver que ela tinha o cabelo seco??! E eu não era para ver que a outra senhora que já estava debaixo do chuveiro toma lá sempre banho? 

Confiante que a senhora tinha shampoo (tem sempre que eu lembro-me), lá fui com o meu gelzito para o chuveiro ao lado e pergunto.lhe com um grande à vontade, “olá, boa tarde, a senhora tem  um pouco de shampoo, por favor?” ao mesmo tempo olho para o cabelo dela e vejo-a com uma tôca, aiiii deu-me vontade de lhe desligar a água quente, claro que ela responde “ahhh desculpe, trago sempre mas olhe que hoje não, porque, sabe, ontem fui ao cabeleireiro e então como sabia que hoje não ia lavar o cabelo não trouxe o shampoo, sabe, é que como trago o cabelo arranjado não o lavo, mas sabe eu lavo o cabelo às segundas, quartas e quintas, ai, minto, lavo às segundas, quartas e sextas, mas sabe, como ontem fui ao cabeleireiro hoje apesar de ser sexta não o lavo, porque foi arranjado ontem” (tal e qual assim) e pronto assim começou o nosso diálogo, eu sem vontade nenhuma de continuar conversa, sabia que tinha de lavar o meu cabelo com o gel de banho, sujeita a usar um produto longe de ser o ideal para o que tanto precisava, eu a ter de ouvir a senhora e por simpatia dizer sim a tudo, ai, tirem-me dali, a estratégia era tomar banho o mais rápido que pudesse, se possível antes que ela, queria era mesmo pirar-me do chuveiro,  já nem me importava de usar o gel de banho do cabelo, meto-me em cada uma, pfff, a senhora, sim…, verdade contou-me uma grande parte da vida dela, socorro!!

Fui diretamente para o jantar completamente desguelhada, ninguém reparou em nada, estavam todos tão animados que decidi fazer o mesmo, juntar-me à animação e nem pensei mais no assunto.

 

 

 

Noite ligeiramente tranquila

07.12.19, Dulce Ruano

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Em seguimento ao post anterior e no contexto da estadia hospitalar em que estavámos no mesmo quarto, eu, a Sra. Arlete que falava pelos cotovelos e mostrava as pernas a toda a gente e a Sra. Beatriz, astuta e na defensiva para não a chatearem, percebi na primeira noite que havia um silêncio tremendo não fosse a Sra. Beatriz ressonar um pouco, nada de especial, apesar de acordar por umas cinco ou seis vezes bastava bater de ligeiro nas barras da minha cama que o seu ressonar parava de imediato, como percebi que a minha estrategia funcionava bem, assim que despertava, dava o toque e o subconscinete da Sra. Beatriz activava imediatamente.

Apesar deste som um bocadinho inquietante, considero que passei uma noite tranquila provavelmente devido ao efeito da anastesia que se prolongou por todo o dia pois só me apetecia dormir, de tal forma que quando alguém me ligava despachava o telefonema dizendo que queria dormir (a quem me telefonou, confirmo que era mesmo verdade).

Dia seguinte quando Sra. Carlota tinha dado entrada no quarto e a Sra. Arlete se aproveitou dela ser nova ali para dar à palheta disse num determinado momento de ausência da Sra. Beatriz "Olhe, aqui mesmo de noite passa-se bem, tirando a senhora ali daquela cama que ressona uns bocaditos, nada mais há a dizer", ao que a Sra. Carlota diz com bastante petulência e segura de si (adorei esta parte da senhora), "pois, então olhe aviso-a já que eu ressono imenso e bem alto"!!

Uma coisa é certa. Sra. Beatriz já estava para sair, apenas esperava o filho chegar e eu tive alta no final da tarde, só espero que Sra. Arlete tenha passado bem a noite, melhor que a anterior, o que duvido.

 

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