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A Sorte da Raposa

Partilha de emoções, experiências, reflexões ❤

A Sorte da Raposa

Partilha de emoções, experiências, reflexões ❤

Competição entre as pessoas

04.12.19, Dulce Ruano

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Continua-me a admirar a competição entre as pessoas. Há as que não podem ver nada nos outros que têm de ter igual ou melhor, ou maior, há as que nem se lembram ou precisam de ter algo mas porque viram que a vizinha tem, a colega usa, ou a prima fez, não resistem à tentação da cópia ou de melhor que igual.

Nada disto me incomoda minimamente, como diz a geração atual, se isso te faz feliz, então faz, sê feliz! Parece-me a mim que nada é mais libertador do que pensar pelas nossas cabeças, agir com a nossa vontade, poder decidir o que quer e quando quer, dentro do razoável.

Cada um de nós com a sua identidade única faz a diferença quando fazemos vindo de nós e não dos outros, até nos tornamos mais bonitos, frescos e airosos.

Assisti a um momento que me fez pensar nisto, uma conversa que decorria sem eu estar minimamente focada no que diziam, mas sem querer ouvi, pensei, valorizei o conteúdo para que me servisse de reflexão e poder partilhar.

Contextualizando, o cenário passa-se num quarto de uma enfermaria do hospital, em que todas as personagens tinham ido ou iriam ao bloco operatório:

Sra. Carlota, tinha acabado de chegar e não conhecia ninguém, vinha para uma cirurgia não sei a quê e sentia-a estranha a tudo, limitava-se a observar.

Sra. Arlete com uma pequena fratura numa perna, falava pelos cotovelos, ja ali estava há dois dias, tinha um curativo na perna, sei que tinha porque ela mostrava a perna a toda a gente que ali entrava, até aos senhores que iam deixar os tabuleiros da comida, médicos, enfermeiros, amigos e familiares dos outros doentes, contava a história da vida dela a todos que lhe dirigissem um olhar, imagine-se estar ali 24 horas na sua companhia! Um trauma para a sanidade mental de qualquer um.

Sra. Beatriz, fractura no braço, já estava havia três dias, pronta para sair, apenas esperava que o filho a fosse buscar, lia uma revista para passar tempo, esperteza dela pois já no dia anterior se tinha apercebido que não podia olhar para a Sra. Arlete pois se tivesse esse deslize já tinha conversa para duas horas.

E eu. Ali estava na minha cama a usar a mesma estratégia da Sra. Beatriz, virada de costas para a cama da Sra. Arlete caso contrário me deixaria de cabelos em pé ou me saltaria a mostarda até não poder mais, é que a senhora a falar parecia uma trotinete desgovernada por uma rua a pique e só eu sei o que já tinha passado.

Estava eu estrategicamente a evitar conversa e a ler uma revista quando percebo que a Sra. Arlete uma vez mais se aproveitara para contar as suas histórias para alguém e, está claro, se eu e a Sra. Beatriz já a evitávamos, a vitima só poderia ser a Sra. Carlota que ainda não tinha tido tempo de a conhecer e lhe dava tempo de antena, senti pena da senhora por outro lado achei que teria que ter a sua oportunidade de a conhecer conforme eu a Sra. Beatriz tivémos.

Num determinado momento percebo que  a conversa delas era tipo de um despique de quem mais cirurgias tinha feito, D. Arlete dizia "olhe veja lá que agora parti aqui neste sitio da perna" (lá estava ela a mostrar a perna), "mas olhe que no ano passado foi aqui mais acima, e sabe lá, olhe que já vão 3 cirurgias, já viu, é muita coisa", diz a Sra. Carlota com um ar meio snob, tipo jáestoufartadeteouvir  "ohh isso não é nada, então eu já vou com oito", D. Arlete diz "Ahhh veja lá..." o seu tom de voz era do género "ora bolas, tem mais que eu".

Em seguida entra alguém no quarto, chama a Sra. Carlota e lá vai para o bloco operatório, não olhei para Sra. Arlete (safa) mas senti que deve ter ficado a pensar nas oito cirurgias, eram mais que as dela.

 

 

 

Momento de chuva

01.12.19, Dulce Ruano

 

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Dias de chuva, inverno, chuva que faz cá falta, nunca me incomodou, talvez porque gosto dela e quando gostamos seja lá o que for nada nos incomoda e isto até nos faz pensar que gostamos de muita coisa e não nos apercebemos por não sentirmos.

Voltando aos dias de chuva, fazem-me sentir livre, aconchegada, quente, feliz. Gosto de sair, não me importo de andar de chapéu de chuva, gosto de conduzir, saio de propósito, não me encolho, dá-me prazer ver chuva a cair, senti-la em mim, saber que vem lá de cima, das nuvens, do céu, da natureza maravilhosa e que tanto gosto. Adoro!

Um dia destes ia até ao shopping comprar a Tribuna desportiva onde certamente viria noticia do jogo do Frank, até vinha numa foto em grande plano, tão lindo o meu menino, tão grande que está!

O céu estava azul e branco, havia sol e conduzi com os olhos semi cerrados por preguiça de pôr os óculos de sol, sim, porque eu sem óculos de sol é como que andar sem cuecas, sensação de despida, mas resisti e não os pus, o rádio do carro como sempre passava a Rock FM a melhor rádio para ouvir o som que me corre nas veias.

Passava uma música muito boa mas já nem me lembro qual era e ia divertida, feliz a ouvir o sonzão, páro no vermelho quase à entrada do shopping, acaba este sonzão começa outro sonzarrão, xiiii, Hereoes Del Silencio, tudo o que fizeram uma obra prima, sabia que no estacionamento interior o sinal do rádio ia abaixo e sem hesitar fui estacionar no último andar ao ar livre a fim de assegurar a minha felicidade de continuar a ouvir a música.

Estaciono e fico sossegadinha a ouvir até acabar, sairia do carro em seguida, mas…ui, ui tinha acabado de chegar uma chuvada puxada ao vento, pingos grossos que até pensei serem de granizo, seria este o preço a pagar pela felicidade de ouvir uma música e então, que faço? Saio e apanho chuva ou deixo-me estar à espera que passe? Ligo o carro e em dez segundos estaciono no piso de baixo, ora, fácil não.

Amo estes momentos, onde e como e quando se é feliz, diria neste momentos, nestes fragmentos que compõem o nosso dia, é só senti-los.

No regresso a casa vinha mergulhada em pensamentos sobre o que faria da minha vida se não precisasse de trabalhar e andar na rotina diária, neste dia de chuva tendo que decidir: viajava imenso, assistia a concertos, a festivais, praticava exercício físico todos os dias, praticava voluntariado. Pronto hoje seria assim, amanhã não sei, nem interessa, talvez fosse diferente.

 

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