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A Sorte da Raposa

Partilha de emoções, experiências, reflexões ❤

A Sorte da Raposa

Partilha de emoções, experiências, reflexões ❤

Os Anjos que vieram não sei de onde

14.01.21, Dulce Ruano

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Acordei, levantei-me e fui trabalhar. Nesse dia senti uma dor numa perna que ignorei como sempre faço quando algo me dói, sei que nem sempre é assim, mas quando possível não alimento a dor, em vez de alimentar o cérebro com esse sentimento negativo desvio os pensamentos para coisas boas e as más acabam por passar, quando assim tem que ser, obviamente, pois às vezes temos coisas que de nada serve nos distrairmos e temos que cuidar de outra forma.

 

Ainda assim, a dor da perna foi persistindo mas continuei sem lhe dar créditos, à medida que o dia passava a dor aumentava até que comecei a manifestar-me com os meus colegas de trabalho como se fossem o meu alento e quando dei por ela comecei a coxear e a manifestar uns grititos sempre que me levantava e tinha de suportar o peso do corpo naquela perna.

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No final do dia de trabalho estava mesmo mal, parecia que me tinham desancado e as dores passaram a ser insuportáveis, os colegas diziam que tinha de ir para o hospital e que de maneira nenhuma podia conduzir até casa mas na verdade eu precisava de testar os meus limites e não cedi às suas sugestões, disseram-me que eu era tipo duma pedra dura.

Apoiaram-me até chegar ao carro, entrei à rasca, carreguei na embreagem várias vezes, percebi que conseguia fazer movimentos desde que estivesse sentada e percebi que as minhas limitações era quando me levantava ou caminhava pelo que fui de imediato para casa.

A poucos metros de chegar a casa lembrei-me que tinha de sair do carro para abrir o portão da rua o que implicava sair do carro, abrir o portão e regressar ao carro, francamente fiquei bastante desconfortável só de pensar nisto, entretanto chego junto ao portão.

Assim que chego e com o carro apontado para a entrada percebo que estão dois meninos, talvez duns 8 anitos mais ou menos, de capacetes na cabeça e com as bicicletas apoiadas no chão, estavam a brincar com o meu cão que entretanto saltou o muro para pedir umas festas.

Ao olhar para eles senti que eram a resposta à minha prece, abri o vidro e disse “Olá meninos, posso pedir-vos um favor muito grande?” eles respondem “sim, claro” e deixaram imediatamente o cão, “Será que podem fazer o favor de me abrir o portão?” eles prontamente disseram que sim e mais rápido foram ao trinco com ar de satisfeitos pela sua utilidade.

Ao abrir avanço com o carro, baixo de novo o vidro, agradeci-lhes e disse-lhes que fossem ter comigo para lhes dar umas bolachinhas ou uma fatia de bolo (tinha lá um bolo de laranja) e eles dizem que não era preciso, agradeceram e eu avancei para dentro da garagem.

Quando saio do carro já eles tinham fechado o portão e pedi-lhes que deixassem aberto, voltaram a abrir, eu naquele instante, que sentia tanta dor na perna e quase não podia estar de pé acenei-lhes, insisti que viessem ter comigo para os compensar mas também insistiram que não queriam, nisto disse-lhes “Meninos, vocês são os meus anjos” e eles: “Quê???” e eu: “VOCÊS SÃO OS MEUS ANJOS!!!” e eles “AHHHH TÁ BEM OBRIGADA!!

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Possas! Que bênção aqueles meninos, nunca tinha chegado a casa a ver alguém ali perto, foi a primeira vez que isto aconteceu e precisamente no dia que eu precisava que acontecesse.

Não sei quem são estes meninos, nunca os vi, mas são os meus anjos 

De facto sou uma pessoa com sorte, acredito e confio bastante que se formos positivos na forma de encarar a vida temos o retorno da mesma forma, pelo que fica a sugestão, vejam sempre o lado positivo de tudo na vida, tal como dizem os Monty Python: “Always look on the bright side of life”.

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Rebeldes indomáveis

11.01.21, Dulce Ruano

 

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Quando teenager, aquela fase dos namoriscos, dos amores, desamores, da beleza de teenager, pessoalmente achava-me uma desgraça, tão pouco aqui vou desabafar lamúrias porém, e de uma forma particular, sentia-me uma miserável com os jeitos ou os não jeitos do meu cabelo, rebelde até mais não aguentar, totalmente indomável, é que era um cabelo aparentemente liso mas o desgraçado tinha uns jeitos e umas manhas que me tiravam do sério e acabaram por ser um degredo na minha vida que tanta auto estima me tiraram, safados, tanta energia gasta à volta deles, tanto paparico, confesso que várias vezes me tentei inspirar na Sinéad O’Connor mas ao mesmo tempo algo me fazia faltar a coragem, acho que alguns anos mais tarde percebi porquê.

 

Todos os dias que saía de casa era um tormento, só ficava razoavelmente com algum aspeto de jeito se o esticasse mas fazer isso todos os dias era duro, ainda assim houve uma época em que o lavava todos os dias, esticava mas depois percebi que a vida era mais do que isso e desarmei-me ao ponto de continuar no desespero do maldito cabelo que não dava tréguas.

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Experimentei vários cortes, modelos, porém não acertava com nenhum, um dia cortei-o curto a correr pelo pescoço, nessa altura era secretaria do administrador da empresa onde trabalhava e no dia seguinte ao corte, assim que entro no seu gabinete olha para mim, faz um sorriso amarelo e diz: “Ehh lá, o seu corte de cabelo faz lembrar um galo” confesso que cacarejei, mediante isto não voltei a apostar em modelos, decidi que ficaria para sempre comprido e direito. Tinha acabado de passar uma vergonha terrível e desesperei para que crescesse rápido.

 

Um dia, talvez com uns dezanove anos fui a uma cabeleireira daquelas famosas pela sua qualidade de trabalho e que era frequentada pela nata rica da cidade, praticava preços mais altos, era cara ainda assim achei que valeria a pena. Lavam-me o cabelo e já em frente ao espelho a pergunta habitual “como vamos cortar” respondi que umas pontitas, confesso que não sabia que havia de dizer por mais revistas especializadas que consultasse e acrescentei que depois de secar que gostaria me fizesse uma espécie de ondulações para lhe dar um pouco de consistência e corpo, naquele momento imaginava-me sair dali tipo duma princesa.

 

Folheei umas revistas enquanto a senhora fazia o seu trabalho até que quando dou por ela tinha umas coisas na cabeça que me faziam lembrar os ossos que as mulheres dos primórdios usavam para segurar o cabelo, uma espécie de bilros ou que era aquilo e pede-me para me dirigir com a cabeça para dentro de uma máquina com forma de um ovo gigante, achei aquilo tudo estranho mas preferi não dizer nada, digamos que me entreguei totalmente às mãos e ideias da senhora, podia ser que ela fosse desvendar a arma secreta do indomável.

 

Estive dentro daquele ovo uma catrafada de tempo e senti muito calor, ia estornicando os miolos mas deixei-me estar, tentei confiar até que quando me pede para sair tira os bilros todos e o meu cabelo estava totalmente encarapinhado.

Tive uma certa vontade de a esfaquear, engoli em seco e dei-me como culpada frustrada, percebi que o mal estava feito e de nada adiantaria reclamar tendo em conta que uma certa parte foi culpa minha que podia ter travado a tempo, doeu-me o coração quando fui pagar, aquilo custou-me uma pequena fortuna!

 

Saí dali tentando me confortar com pensamentos de que pelo menos durante algum tempo não tinha de passar 50 minutos todos os dias a esticar o cabelo e o quanto seria cómoda a minha vida durante uma temporada ainda assim senti que alguma coisa não estava bem, só não sabia o quê.

 

Uns dois depois, intrigada com o que sentia de estranho, lavei o cabelo, quando percebo que o tinha todo queimado, melhor, estava estornicado, fartei-me de chorar, sentia uma bola a ser esmagada pelos músculos da minha garganta e sim, se estivesse à frente da cabeleireira cortava-a às postas, meti-me no autocarro e fui ter com ela, pediu-me desculpas e disse que a única solução era cortar rente. O que eu chorei!

 

Chorei e chorei mesmo muito porque daí uns quinze dias mais ou menos iria realizar-se o casamento do meu tio Ben e eu como teenager queria era arrasar naquela festa, tinha então comprado um casaco do último grito da moda, feito por encomenda a um estilista que lhe fez uma aba a toda a volta bordada à mão, que charmoso e lindo que era.

 

Nos últimos quinze dias o meu cabelo tinha crescido uns míseros milímetros porém foi necessário acertá-lo, ou melhor, apará-lo de novo de forma que ficou a uns 5 mm de altura o que me levou a deitar-lhe um pote de gel para cima. Ficou todo espetado, fazia-me lembrar os punks dos anos 80 quando surgiram com os seus efeitos de cristas meio galináceas.

 

Que nesse casamento todos me diziam que estava elegantemente vestida, lá isso foi mas creio que não houve ninguém que não perguntasse que loucura tinha sido a minha em cortar o cabelo à recruta, houve até quem me dissesse que podia ter esperado que passasse a grande festa do casamento! Enfim! O que uma pessoa às vezes passa!

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OBS.: Imagens recolhidas duma rede social

 

Ei-los à solta

08.01.21, Dulce Ruano

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Hoje fui à cabeleireira. Cabelo liso, comprido, castanho, nunca soube o que é um pingo de tinta ou que quer que seja. Aparentemente parece uma banalidade ir à Cabeleireira mas para mim não é, para mim é um acto heróico e de coragem, já estava com as pontas ligeiramente espigadas e se por natureza já custa dominar quando as pontas precisam de ser cortadas nem consigo descrever o que já não lhe consigo fazer!

Louvo a arte de trabalhar com cabelo, estes profissionais necessitam de sensibilidade, criatividade, toque, entrega, deixar fluir os seus dotes e eu admiro tudo o que se faz assim, são características fiéis da perfeição e realmente fazem-se trabalhos incríveis que me deixam de cabeça à roda como é possível a sensibilidade tão apurada para tamanha arte que tão pouco tempo dura, dias ou horas mas como se pode repetir as vezes que se quiser louvo também quem consegue ter paciência para as idas à cabeleireira.

É que perante esta descrição admito que não tenho a mínima coragem de cortar um único cabelo, nem a brincar nunca o fiz, tenho a impressão que se alguma vez o tentasse a tesoura ganharia vida diabólica e faria uma grande travessura.

Não gosto de ir à cabeleireira e também não tenho paciência, por tal é que para mim é um ato heróico e de coragem. Deixo-me chegar até à última até ao ponto de não conseguir fazer nada dele é que às vezes espiga como uma touceira de salsa, fica sem jeiteira nenhuma, diga-se que quando o meu cabelo anda nessa fase é um problema muito grande que tenho de enfrentar e engonho por várias semanas até não poder mais, já tentei estratégias mas não funcionam. A cabeleireira até já me sugeriu que marcasse na agenda uma vez por mês para me sentir com aquela responsabilidade mas tenho de admitir que nisto sou uma desgraçada de uma irresponsável!

Presumo que haja outras pessoas que assim pensem, talvez uma minoria uma vez que quase todo o ser humano terá a sua vaidade e que será tão diversificada mas cada um sabe de sim, faz o que mais gosta e foca-se naquilo que mais gosto lhe dará, nada contra! Muito respeito pelas opiniões e opções dos outros assim espero para comigo.

Já me manifestei perante outras pessoas que não tenho paciência para ir à Cabeleireira e de imediato franziram a teste, arregaçando a parte direita do lábio superior como se eu fosse uma aberração descaindo de imediato o lábio fixando-se em mim de olhos ampliados para me verem bem e a seguir dizem-me umas palavras desprezantes como se eu fosse uma pessoa deveras estranha, o que é facto é que eu não tenho paciência para estar naquele processo de esperar, sentar para lavar, depois passar para outra cadeira com espelho, a seguir a fatídica pergunta “como vamos cortar” eu respondo que não sei e peço que mantenha o que está porque está bem e gosto assim.

Encantadoras profissionais que tratam de mim, são bastante simpáticas e delicadas comigo, até porque quando entro aviso logo que estou com pressa e acabo por confessar que tenho pressa porque não gosto de ali estar, onde quer que seja e creio até que devo conhecê-las quase todas porque não me consigo fidelizar a nenhuma.

Compreendo que é inevitável a comunicação entre duas pessoas que estão num contacto físico tão próximo e como é um encontro casual é normal que o diálogo seja perguntas ou respostas ou observações vagas, perfeitamente de acordo mas o problema está mesmo em mim, como não gosto de lá estar implico com tudo e por vezes digo “desculpe mas não ouço com o barulho do secador”. Um alivio por momentos, ao dizer isto o diálogo não acontece.

Queridas cabeleireiras de mim: “Desculpem e tenham lá paciência comigo, sou assim, sabem lá as paredes que trepo para ir aos vossos salões e verdade que me fazem falta

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Desejos 2021

06.01.21, Dulce Ruano

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Na passagem de ano muitas são as tradições, desde a cueca azul, ao brinde, aos beijos, aos abraços, à folha de louro na carteira, uma roupa nova, entre muitas outras para além das famosas passas, porém confesso que nunca dei importância a nada em particular e tanto me faz estar numa grande festa como até já estar a dormir na passagem da meia noite, tudo isto porque em pequena descobri que no dia a seguir era um dia como outro qualquer.

Já comemorei a passagem de ano em grandes festas, algumas bastante marcantes outras uma seca e desejosa que o tempo passasse bem depresa que estava farta daquilo, ainda assim, sempre tive a paranóia de separar as 12 passas e pedir um desejo em cada uma que metia prá boca, depois não acontecia nada até que uma vez descobri que se não fizesse nada ao longo do ano para conquistar os desejos pedidos na meia noite, estes não aconteciam, mesmo assim continuei a tradição, acho que o fazia de uma forma inconsciente, sabia que aquilo não resultava mas parecia mau presságio não simbolizar.

Cheguei a fazer a lista dos 12 desejos, escrevi-os na agenda, guardei-os meticulosamente e outras vezes ia pedindo um a um apenas naquele momento em que engolia cada passa e outras vezes chegava ao meio da contagem e dos pedidos e vinha alguém a abraçar e desejar o Bom ano até que perdia o conto e aquilo perdia o significado todo!

Este ano, na passagem para 2021, apesar de restrições, fiz o último dia de 2020 a fazer o que gosto e comecei o dia um também a fazer o que gosto, não estive em nenhuma festa de multidões, além de não as haver não me apetecia e também não houve passas assim como também não houve lista de desejos, nem pensei neles.

Concluí que desejos acontecem ao longo de todo o ano e que em qualquer data podem ser idealizados e realizados, não sou assim tão organizada e assertiva ao ponto de saber o que me espera por um novo ano afora, assim, remeti-me a desejar o que todos os dias imponho a mim própria: Ser positiva no que quer que seja, após seguir esta opção concluí que tudo flui de outra forma, mais leve e assertivo.

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Durante muitos anos procurei a sorte, indagava o que era a sorte e achava que um dia me caíria aos pés porém, por mais que a desejasse não a tinha e quando afastei a ideia de algum dia ter sorte na vida foi quando os feitos surgiram e a minha mente ficou mais pré disposta às realizações do que pretendia.

Sem dúvida alguma que é um trabalho diário e constante, precisei de me maravilhar com a vida e tudo o que me rodeia, muitas vezes em que algo não corre bem me questiono onde está a sorte e o que de positivo tiro daquilo que me está a acontecer, naturalmente que tiro lições, aprendizagens e crescimento que são a minha sorte para futuros acontecimentos que hão-de surgir na vida.

E este é o meu desejo para 2021, construir o dia a dia e acima de tudo aceitar o que tenho, é que passei a ser e ter mais. 

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Obs.: fotos tiradas de uma rede social