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A Sorte da Raposa

Partilha de emoções, experiências, reflexões ❤

A Sorte da Raposa

Partilha de emoções, experiências, reflexões ❤

As cruzes do campo

20.06.21, Dulce Ruano

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Há tarefas em que dedicamos tanto esforço físico e emocional que depois chegamos ao fim e não têm o efeito desejado ou o reconhecimento do sacrifício com que se fez e isso deixa-nos, em certa parte, frustrados e até um pouco desanimados mas pior disto tudo é baixar as armas e darmo-nos por vencidos!

Viver no campo ahh e tal é tão bonito, pois é. E trabalhoso então. Tanto. Pior do que isto é dar o corpo e a alma à aspiração, à esfregona, aos paninhos e sprays e já agora mais isto e mais aquilo. Ninguém aguenta e tudo abana dentro de mim quando penso que aquela dedicação, aquela entrega gloriosa tem pouca duração, pois logo alguém sujou aqui ou ali, mal termino não aguento ver alguém a entrar ou passar e ainda com um ar angélico dizem “Ahh eu não piso nada, olha aqui vou em bicos de pés” Que falta de compreensão contra mim, ai se imaginassem o meu sentimento naqueles momentos, saem-me lavaredas pelos olhos! 

Depois de uma semana intensa de trabalho imenso, só alguém mesmo arrojado tem a pica de fazer limpeza à casa, mas é preciso, é um facto! Termos o lugar onde vivemos limpo contribui para uma lista de fatores agradáveis à vista e ao coração, faz-nos sentir melhores, reconheço que é imperativo mas confesso que não gosto nada, é uma seca, dá imenso trabalho e sinto sempre que podia estar a fazer outras coisas mais interessantes.

Apesar de ir dando manutenção básica sinto que de vez em quando tenho de fazer uma passagem mais profunda e numa dessas vezes, estávamos no inico da Primavera, as terras à volta da minha casa pediam cultivos, antes tinham de ser preparadas, lavradas, gradeadas, assentar para as sementeiras, parece tudo muito bonito não fosse ter escolhido este fim de semana para limpar a casa de forma aprofundada.

Aspirei, limpei pó, esfrunhei, passei esfregona nos mosaicos, no chão de madeira, limpei janelas e portas, vidros interiores, lavei tapetes, lancei mangueiradas nos terraços da frente, de trás e lateral, aproveitei e lavei o passeio dos paralelos à volta da casa, sentia-me uma verdadeira mártir da limpeza mas sabia que tinha de o fazer e no final a satisfação era enorme, porém, por pouco não cometi um atentado, não é que andavam quatro, sim, quatro (4) tratores industriais a lavrar as terras em volta. Ninguém merece! 

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Quando me apercebo via enormes nuvens de poeirada por todo o lado, fiquei especada a olhar para eles e com uma enorme vontade de chorar, quanta coincidência aquela em que foi tão difícil encorajar-me nas andanças da limpeza profunda no mesmo dia que decidem lavrar, apetecia-me furar aqueles pneus todos, cortar-lhes os tubos do combustível, apetecia-me ser má e ainda olhei meio de lado os senhores que conduziam, vi que não perceberam nada.

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Os terraços ficaram imundos, as janelas por fora nem digo nada e para piorar alguém em casa decide tomar banho gastando 300 litros de água quente o que provocou uma gigante nuvem de humidade dentro da casa de banho mas claro, não podia abrir a janela para o pó não entrar. Voltei a ter vontade de chorar, foi só vontade, não o fiz, estava demasiado mal disposta e rancorosa para verter lágrimas.

No final do dia tinha um sentimento misto com cansaço, sensação de rastos e cara de poucos amigos, pior fiquei quando me lembrei que no dia anterior tínhamos limpo, após todo um inverno sem o fazer, a zona exterior do churrasco, palavras para quê!

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Mas calma, declaro que apesar de todas as emoções sentidas não me torci nem só um bocadinho, no fundo até me ri, já vai o tempo em que me consumia por ondas negativas, o otimismo impera e em vez de chorar, há que rir mas se tiver que chorar então que seja de rir 

De correr aos tiros

13.06.21, Dulce Ruano

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Acordei às 06:00h da manhã. A mochila com o equipamento estava pronta, tomei o pequeno-almoço, preparei comida para todo o dia, umas sandes, fruta, água, às 7h estava a caminho do ponto de encontro marcado com o Penta Clube da Covilhã devido ao convite que fizeram para participar na prova de Laser Run em Coimbra.

Assim que chegamos começa a chover, ansiosos pelo verão e bom tempo ninguém ia preparado para clima chuvoso ainda assim tudo correu bem, rumámos à zona da prova, juntámos as mochilas num único lugar e uma vez que a nossa prova estava para depois das 3h da tarde procurámos uma pastelaria ali perto para o deleite dos que não lhes pode faltar o café, fui por companhia, não tomo café no período da manhã.

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Estávamos no Parque da Canção nas margens do Mondego com o amparo da Ponte de Santa Clara, os pingos da chuva voltam à ameaça porém entrámos na Pastelaria a tempo suficiente de nos livramos duma enchurrada de água que por momentos nos fez pensar que se assim continuasse não haveria condições para a realização de qualquer prova. Não foi o caso, bendita chuvada que não passou dum refresco.

O trânsito estava dificil, havia em vários pontos da cidade condicionantes devido à prova de Triatlo Taça da Europa a decorrer ao lado da nossa de Laser Run e no momento em que conseguimos atravessar a rua na direção da pastelaria, passa o meu colega de trabalho o Vicente, não me viu mas por momentos achei-me estranha, que probabilidade tão reduzida de ali passar um carro com alguém que eu conhecia, uma pessoa com quem trabalho todos os dias, em jeitos de coboiada ainda o chamei por entre os pingos da chuva, "Ó Vicenteeeeee", claro que não me ouvia, tão pouco acreditava que o tinha acabado de ver, mal me sentei mandei-lhe uma mensagem para o whatsApp, achou que estaria a brincar com ele mas quando lhe disse que o tinha visto mesmo à saída da Ponte de Santa Clara viu que era a sério, que momento íncrivel. 

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A intenção era mesmo só tomar um café, porém, o momento em que olho para a vitrine da doçaria, foi o degredo, sem necessidade alguma e só porque não resisti peço um bolo, especialidade da casa, chamam-lhe palmeira, folhado com creme de ovo no meio e uma crosta em cima que me levou aos céus, parti em cinco mas deu-me vontade de o comer todo, os meus colegas não se deixaram ficar, levantam-se e pedem outros bolos, dividimos para todos, a menina que nos serviu também não se deixou ficar e oferece-nos outra especialidade da confeitaria de Coimbra, tinha doce de chila e nozes, que delicia.

Se o nosso treinador soubesse atirava-nos ao rio, ficou em segredo com a menina. Na mesa ao nosso lado estavam cinco homens, ares de 70 anos, um deles partilhava um monte enorme de fotografias antigas, aquilo chamou-me a atenção, tinha de ali haver história, naturalmente que não resisti e fui-me meter com eles.

Um vinha de Serpa, dois de Lisboa, dois de Guimarães e Porto, marcaram encontro em Coimbra para passarem o dia, recordar o que tinham passado em comum nos tempos de ultramar por terras de África e as histórias das suas vidas, não se viam há 46 anos, custou-me imenso deixá-los, gostaria tanto de ter passado o dia com eles, ouvir as suas histórias, derretida e embeiçada, teria trocado pela prova mas tive de os deixar ir, desejei-lhes feliciades e demonstrei a minha emoção pelo encontro entre eles.

No final da manhã emocionei-me, a prova internacional de triatlo acabara, o primeiro e segundo classificados foram dois portugueses, o Vilaça e o Batista, o terceiro foi um belga, depois de receberem as medalhas astearam-se as bandeiras e ouviu-se o hino português, cheguei às lágrimas, foi um momento bonito. Parabéns campeões!

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Não voltou a chover, no inicio da tarde o sol abriu e aqueceu, bem o escusávamos para a prova mas incomodou pouco, entretanto a zona de Triatlo anunciava o começo de mais uma competição, não resisti e assisti à prova de natação, quando soube que tinham de percorrer a nado 750 metros, seguidos de 20 Kms de bicicleta e ainda mais 5 kms de atletismo deixou-me a pensar nas capacidades e resistência dum ser humano particularmente na dedicação e sacrificio diário para conseguir feitos desta natureza, eu só não sabia que estava prestes a assistir a mais uma liçao de vida.

Não sei bem quantos atletas eram mas arrisco dizer alguns 50 ou mais, partiram todos no mesmo alinhamento mas logo se começaram a destacar os mais fortes, que belas imagens nos deram, pareciam peixes a dar à barbatana, confesso que aquelas imagens me impressionaram. Os três primeiros chegavam à margem, emergem da água e começam a correr na direção das suas bicicletas, enquanto isso iam tirando os fatos de natação, todos os segundos são importantes.

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Continuei a admirar os que ainda vinham a nadar, os mais isolados vão surgindo, por vezes apareciam em grupo e a um dado momento há um atleta, homem para uns cinquenta e piques anos que ao chegar à margem não se põe de pé tão rápido quanto os outros o que me reteve o olhar e nisto uma rapariga surge do público, aproxima-se da água com um par de muletas e entrega-lhas, o senhor põe-se de pé e só lhe vejo uma perna, que estaladão para a vida ali levei.

Fiquei com uma admiração tremenda pelo senhor, apeteceu-me ir dar-lhe um abraço, que determinação, que lição para todos nós que somos uns queixinhas na vida, eu achava que era uma pessoa forte mas com toda a certeza que daqui em diante me irei lembrar deste senhor e mais forte me tornarei. Pelo que soube o senhor participava em prova de estafetas, fez a parte dele e entregou o testemunho a alguém, não soube mais nada dele mas o que sei é que uma grande quantidade de atletas lhe ficaram atrás e com duas pernas.

A nossa prova decorreu sem sobresaltos, o tiro que é o mais exigente em termos de tempo perdido ou ganho correu muito bem, no final sentimos que tinhamos passado bons momentos e divertidos, iniciámos preparação para o regresso a casa.

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Já em casa, pouco depois de tomarmos uma chuveirada voltámos à estrada a caminho de Castelo Branco, apanhámos uma trovoada terrível, chuva a potes, trovões e relâmpagos incriveis, só alguém louco pode afirmar que foi uma aventura energizante percorrer a auto estrada nesta condição, confesso que gostei, talvez a apreciasse melhor no terraço de casa mas estava ali e era ali que tinha de a saborear.

Imperdível o concerto, já tinha vontade de ver um bom espétaculo, é a segunda vez que assisto e está cada vez melhor, foi o terminar de um dia fabuloso e em grande com Mazgani.

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