A entrega do filho à terra
Entregar um filho à natureza, o lugar de onde veio, de onde foi gerado, dá-se a transformação, habita e regressa à origem. É o ciclo da vida! Deste ciclo ninguém está imune. A lei está bem definida e a nossa infinidade perante tamanha grandeza de realidade é, à proporção, contrária.
Se dúvidas não há que da natureza vimos e para lá regressamos, o que nos causa estranheza é o tempo que duramos por vezes ser tão pouco e obstante o significado de pouco tempo ser abstrato não impede o sofrimento de ver partir alguém para o lugar eterno. A desculpa da partida é sempre a ingrata da história porém há algumas que são incompreensíveis, mesquinhas, empobrecidas, desumanas, desnecessárias, selvagens, acabando por ser imperdoáveis!
A partida definitiva é a parte negativa da vida de quem fica, a injustiça duma partida precoce e anómala dum ser não deixa ninguém indiferente, é inconcebível e não se ajusta no mais pequeno lugar do nosso cérebro quanto mais no coração.
Quando se assiste à partida dum filho da terra para a terra, particularmente da forma como partiu e a tremenda frieza de como aconteceu deixa-nos revoltados, repudiados, tristes, estranhos, impotentes, fracos o suficiente para tamanha incompreensão.
Nenhum ser humano deveria ter o seu ciclo de vida interrompido, em qualquer circunstância, ainda assim reconhecemos que há doenças e acidentes mas a interrupção dada por ataques de raiva, de frustração, de vingança, de indiferença, de frieza não são de todo aceites. Aqui é que se encontra a grande injustiça, quando se tem uma vida sã, quando se tem uma vida honesta, quando não sofreu um acidente, quando se é filho, quando se é da terra e seja ela qual for.
Muitos homens e mulheres partem de forma injusta, tantos que estão expostos à brutalidade e monstruosidade de mentes perturbadas e todos estes casos não deveriam ser reais, não deviam passar da linha que separa a ficção da realidade, aquela realidade que nos reduz a uma insignificância tal que não nos permite perceber a grandeza da atrocidade em causa.
Nenhum filho deveria sentir a partida daqueles que o geraram, o amparam ou preparam para vida mas, perdoem-me todos os que são filhos, eu inclusive, nenhum pai ou mãe merece assistir à partida dum filho independentemente do motivo que seja, por tal deixo a minha vénia aos majestosos pais que viram seus filhos partir, sois grandes, sois heróis, tendes a minha grande admiração.
Eu, sendo também uma filha da terra, não só da natureza que me gerou como de terra natal do Fábio Guerra emociono-me pela sua ausência, sofro pelo massacre a que foi sujeito e também sofro muito pelos seus pais a quem dedico este texto.
Fábio Guerra serás sempre recordado com emoção pela nossa terra!
Nota: imagem retirada de rede social