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A Sorte da Raposa

Partilha de emoções, experiências, reflexões ❤

A Sorte da Raposa

Partilha de emoções, experiências, reflexões ❤

Setembro

30.09.22, Dulce Ruano

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Setembro, está de partida, apesar de gostar de desfrutar de todos os dias do ano, como tudo na vida gosta-se mais de uns dias que outros e também mais de uns meses que outros, no que me toca não vou muito com os ares de Setembro.

Setembro é, para mim, um mês malandro, rouba-me o verão, leva-me os dias quentes, ensoladorados, clarinhos, o céu azul e limpo, leva-me a luz, a leveza, a descontração, a beleza, tantas outras coisas que me leva e sobrecarrega com outras que me tornam enfadonha, triste, aborrecida, deprimida.

Setembro faz-me sentir um choque, uma desilusão, Setembro ofusca-me o verão, de rompante e de um assalto só deixo de sentir os dias reluzentes e por mais que me digam que tem dias iguais ou até melhores, não é o mesmo, os dias já não são os mesmos, há algo que ofusca, uma espécie de aura que faz sombra.

Setembro traz os dias mais pequenos, as madrugadas e noites mais frescas, aliás, frias, bastante frias, com a sua chegada tornou-se desagradável aquele bocadinho que tirava todos os dias depois das 6:30h da manhã sobre a relva dum canto do jardim, agora, mantendo este pequeno retiro matinal já fico dentro de casa, Setembro tirou-me este mimo matinal.

Todos os dias do ano posso ter o contato com a natureza, mas convenhamos e sejamos honestos, já não é bem a mesma coisa como é no verão. Mesmo quando estou num lugar fechado, sinto o verão lá dentro, emana energia positiva, suave, alegre.

Vestir roupas leves e frescas, andar descalça e sentir a liberdade do verão, do quente, do quentinho que se sente na pele, das águas, do fresco que a natureza proporciona, as risadas, os encontros, a descontração, a inspiração, a motivação, depois tudo muda em Setembro.

Também gosto de partes do Inverno, os fenómenos meteorológicos fascinam-me, e é uma estação de maior variedade. A chuva é apaziguante, gosto dos dias e noites em que cai, as trovoadas e os relâmpagos são impressionantes em beleza e muito respeitinho, quanto ao frio, não gosto e de vento não gosto nada, além de que tudo isto dura e dura, meses, muitos meses.

A chegada do verão é maravilhosa, tudo muda para melhor, os dias são maiores e dão para tanto mas o Setembro vem e acaba com tudo, bem, por este ano, já passou.

Vai Setembro, vai, que chegue o Inverno também para que tenha o verão mais próximo….

Arvorismo

23.09.22, Dulce Ruano

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Passar por experiências acrescenta-nos em sabedoria, satisfação, afirmação e torna-nos especiais. Há uns anos quando passava por momentos radicais achava que tinha de os aproveitar porque com o passar da idade, a destreza iria reduzir além de que a vontade em meter-me em aventuras também diminuia devido à própria natureza do ser humano.

Analisando as aventuras e emoções que tive no passado diria que em comparação estou, atualmente, mais radical, com mais destreza, força, vitalidade e garra.

Estas caracteristicas não se aprendem, captam-se porque, ou se querem ou não se querem. Não me acomodo, parto sempre para a luta determinada que tenho de fazer o que quero fazer e esta forma de ser é cúmplice de aventuras mirabolantes.

Há duas coisas que gosto muito: Subir rochas e andar sobre alturas, desde muito pequena que quem me via feliz era a subir pedras, árvores e muros, nunca tive acidentes e ganhei, com o tempo, uma destreza que me faz levitar quando me meto nestas aventuras.

Mais tarde acabei por praticar escalada em rocha natural na Serra da Estrela e um bocado mais à frente tive a primeira experiência de Arvorismo no Gerês. Gostei tanto de andar de árvore em árvore a acabar numa descida em slide que fazia lembrar uma criança que desce no escorrega e volta a escorregar mais cinquenta e oito vezes.

Noutra experiência em árvores a descida era em queda livre, aí é que a porca torceu o rabo, sentei-me sobre a base da árvore com as pernas em suspenso porque me faltara coragem para saltar, o guia com a sua enorme paciência esperou acalentando-me com sugestões de como o deveria descer até que cruzei os braços, fiz beiça e disse-lhe que não adiantava fazer-me a cabeça porque dali eu não saía.

Num determinado momento o rapaz, sem saber que mais havia de dizer para me estimular à decisão de saltar perguntou se queria voltar atrás fazer a via toda ao contrário para descer o que me provocou uma sensação de fraqueza de espirito, de imediato levantei-me, agarrei na corda suspensa e atirei-me no vazio, chegada ao chão o meu pai fez uma festa e o rapaz tinha ares de aliviado.

Uma vez visitei uns amigos na Suiça, eles sabendo do meu espirito aventureiro e radical levaram-me a um parque de Arvorismo perto da casa deles, entusiasmadíssima encaixei o capacete, meti as pernas no baudrier e o guia reuniu o grupo para umas explicações, de todas as vezes que tinha feito Arvorismo fora acompanhada com um orientador que explicava todas as mudanças e técnicas a usar de árvore em árvore e como este guia falou em língua Romanche não percebi patavina pelo que me passou tudo ao lado achando que o guia me orientaria, que mais não fosse por gestos quando estivesse sob as árvores.

Senti um ligeiro pavor ao perceber que teríamos de ir em autonomia e pelo que a minha amiga me traduziu, havia técnicas que eram inprescindíveis de saber, tal como travar com o Grigri, um sistema de travão para a chegada à árvore seguinte fosse amena e não provocasse algum dano a mim ou à árvore, porém, as minhas emoções estavam ao rubro e quase não dei ouvidos àquela tradução.

O parque era enorme, as árvores esguias e duma altura imponente, havia sete níveis de dificuldade, só não fiz o último que já era do tipo Iron Man. Tinha várias formas de passagem, desde pequenos círculos de madeira, rolo sim, rolo não, escada horizontal, túneis de rede, reta de corda, bicicleta, skate, trotinete, slides (havia um nível só de slides, que brutal).

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Num dos níveis tinha uma passagem engraçada, sob a base tinha de me apoiar num pequeno assento agarrado a uma corda, lançar o corpo para a frente com o máximo alcance possível para chegar à rede da árvore seguinte, ainda lhe toquei mas não me consegui agarrar pelo que o meu corpo é projetado para trás ficando em forma de pêndulo até parar ao meio e ficar ali no vazio sem saber como havia de sair até que o rapaz que aguardava o apoio puxou a corda bandeando-a um pouco de modo a que eu conseguisse chegar à rede, soltei o apoio, trepei e cheguei à base da árvore.

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Quando passei ao nível da via dos slides parecia um filme de ficção cientifica de tanta estrela que vi, aí é que entendi a falta de atenção à tradução da minha amiga sobre como travar, só depois de vários incidentes é que percebi que quando me estava a lançar para a árvore seguinte tinha de travar com o Grigri uns momentos antes para não me esbardalhar contra o tronco o que aconteceu em várias situações, uma dessas vezes o embate foi tão forte que senti um estrondo na cabeça tal foi a violência, o capacete bateu e percebi a qualidade com que era feito além de que ainda fiz um corte e um galo na testa sobre o olho direito não falando do choque que houve entre o meu tronco e o da árvore, que grande embate, sentia o corpo a estalar por dentro e a cabeça a zunir.

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Recomposta continuei a batalha, terminei a via dos slides em grande, a chegada era sobre um enorme tronco que para proteção, devido á rapidez com que se alcançava, tinha uma grande rede para nos segurar e mais uma vez não travei, tal era a velocidade que levava que me estatelei totalmente sobre a rede sentindo-me literalmente uma SpiderWoman agarrada à teia.

Depois desta descida vertiginosa e super radical não me conseguia mexer, é como que estava colada e quase que deixei de sentir o corpo, olhei para baixo, vi a minha amiga a rir e a tentar dizer-me que eu tinha que ter travado tal como me tinha explicado, eu só pensava que para a próxima já sabia.

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Quando cheguei ao chão estava cheia de mazelas, levava um senhor galo na testa, vários cortes no sobrolho, braços e canelas, as nódoas negras demonstravam bem a guerra travada no cimo daquelas árvores.

Saí do parque completamente esgotada mas feliz, o que mais desejava era chegar a casa e enfiar-me dentro da cama porém, quem quer boas amigas arranja-as e a minha ofereceu entrada para um Balneário Termal com direito a tudo, banho de contraste, banho turco, sauna, jacuzzi, piscina exterior de água quente com vistas para a montanha, jatos de água, piscinas coloridas, efeitos de cascata, solário e umas espreguiçadeiras bastante confortáveis, foi um grande problema sair dali.

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Nota: Imagens meramente ilustrativas retiradas da net por preguiça de procurar as minhas 

 

 

 

 

 

Trovoada à fatia

21.09.22, Dulce Ruano

 

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A natureza tanto tem de beleza ímpar como de medonha e perigosa, por exemplo, um incêndio, uma inundação, um vulcão, um tremor de terra, ou até um simples cogumelo venenoso ou um bicho que destila veneno para sua defesa, diria até o próprio ser humano. Tudo tem o seu lado maravilhoso e o seu lado assustador.

Desde pequena, quando ouvia trovoadas e via relâmpagos observava uma beleza extraordinária, ficava encantada com os fortes estrondos, confesso que por vezes tremia um pouco quando se ouviam aqueles cujos raios caíam no telhado da casa, ficava estática a ver a luz incrível que os raios emanavam, de noite então era um frenesim de emoções, os raios rompiam totalmente a escuridão do lugar de campo onde vivia, do negro imenso da noite saíam repentinamente luzes em formas de raios tão potentes que tudo se iluminava, no céu e na terra, sempre achei incrível este fenómeno da natureza o que me levava a ficar extasiada de emoção.

Via a maior parte dos adultos assustados, recolhiam-se para dentro de casa e os animais, principalmente os cães entravam e escondiam-se debaixo de qualquer coisa que lhes estivesse a jeito, achava-lhes uma certa piada e dizia-lhes que eram uns mariquinhas pé de salsa, eles lá saberiam a sua afronta. Havia trovoadas em que eu era a única da casa, no seio da grande Família, que ia para a rua ou se não me deixassem, ia, no mínimo para a janela porque aí já me deixavam estar.

Também me lembro que quando trovejava a minha avó aproveitava-se da situação e dizia-me “Vês minha filha, às vezes portas-te mal e agora o Jasus (Jesus) ralha contigo”, ficava sempre indignada com aquilo e conseguia perceber logo que era mesmo para se aproveitar de dar o recado a um deslize ou outro do meu comportamento como criança, na verdade a mim nunca me convenceu.

Mais tarde, os meus meninos desde muito pequenos que, apesar de não se meterem debaixo da cama quando trovejava, notava que tinham algum respeito pelo fenómeno, um dia tinham eles por volta de um 5 e outro 8 anos houve uma trovoada bastante forte acompanhada de relâmpagos, nessa tarde de sábado estávamos todos em casa, o céu ficava cada vez mais de cor de chumbo e achei que seria o momento certo de lhes mostrar a natureza no seu estado puro sem que tivessem de a recear.

Na altura nutriam uma grande paixão pelas destemidas Tartarugas Ninja, tinham fatos, espadas, a carcaça que punham às costas, as mascarilhas, achavam que vestidos a rigor encarnavam aqueles super heróis o que lhes dava poder e força. No momento que senti ser o certo para acabar com algum dúvida sobre o tabu das trovoadas chamei-os e pedi-lhes que se vestissem de Tartarugas Ninja, era importante trazerem as espadas para cada um incluindo uma para mim.

Em pouco menos de cinco minutos estavam trajados, fomos para a rua junto ao terraço da casa, assumi o comando e passei a dar-lhes instruções de uma espécie de guerra dizendo-lhes que os trovões e relâmpagos faziam o papel de mauzões que nos queriam atacar e nós tínhamos a missão de defesa, teríamos de estar atentos e ser certeiros mostrando aos mauzões que eramos fortes.

Pedi-lhes que colocassem as espadas ao alto em posição de ataque, fletissem um pouco as pernas para que no momento do ataque tivéssemos elasticidade para dar a golpada final e acima de tudo que ficassem à escuta, focados e concentrados no som que viria dos céus. Assim que se ouviu o primeiro trovão ripostámos com o nosso grito de guerra, vimos um raio que imediatamente atacámos numa única saltada, pudera, éramos três, estávamos unidos e fortes e assim foi com cada trovão que surgia.

Pouco depois a trovoada tinha sido derrotada, nós três de espadas em punho fazíamos o grito da vitória e do quanto eramos invencíveis.

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Depois deste momento em que acabámos por nos divertir imenso fomos comer torradas, bebemos leite com chocolate e conversámos sobre os fenómenos da natureza e dos seus encantos mas também dos seus perigos pelo que acima de tudo foi um bom momento pedagógico e que lhes valeu para a vida, tendo sempre em conta o respeito e os cuidados a ter perante tamanha ação da natureza.

Hoje percebo que desde bem pequena o quanto admirava o mundo, a vida, a natureza, os animais, as plantas, a terra, o ar, os oceanos, as montanhas, os seres humanos, toda a energia que flui no admirável planeta terra e arredores. Ahh e as Tartarugas Ninja também têm a minha admiração. 

Lista Mágica

14.09.22, Dulce Ruano

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Ir às compras de supermercado exige, nos dias atuais, uma ginástica tremenda, tem dias que apetece comprar tudo, em especial se sentimos vontade de comer compramos coisas supérfluas que no fundo servem apenas para alimentar o ego, gastar dinheiro e por fim, quando chega a consciência do ato, termos a sensação de angústia e frustração porque o fizemos. Também há outras vezes que pensamos em comprar só o restrito necessário mas vamos tão conscientes e sem fome que abdicamos de uma coisa ou outra porque está caro e pensando bem não faz assim tanta falta.

De facto é um desafio ir às compras, tanto nos preços como nos produtos, marcas, qualidades e afins passou a ser uma tarefa complexa e das duas uma, compramos em função da qualidade, necessidade, custo ou esbardalhamo-nos a comprar tudo e mais qualquer coisa mas depois pode vir o sentimento, a quem o tem, de gastos desnecessários, excessivos e até pensamos na sustentabilidade do planeta que nos deixa de consciência pesada.

À medida que preciso comprar algum produto costumo apontar num papelito que por norma está sob a parte da bancada entre o fogão e o forno, em casa todos sabem que é regra apontar quando detetam a falta de alguma coisa. A lista vai-se assim construindo até surgir uma necessidade de maior ou ser oportuno ir às compras de uma só vez tendo em conta a otimização de recursos da qual sou bastante adepta.

Esta é a forma de me organizar, é a que melhor se adequa à minha realidade. Ter a lista é para mim, poupança de tempo, dinheiro, racionalidade, foco, satisfação, organização e estaria tudo perfeito se de facto isto assim fosse na prática, não fosse o tropeço de perder sempre a lista a meio das compras. Comigo não há listas que resistam até ao fim das compras e às vezes até as perco ou esqueço antes de entrar na superfície comercial.

Quando me esqueço em casa ou no trabalho peço a alguém que me envie uma fotografia da dita pelo whatsapp, já aconteceu com o pessoal da casa e também com colega de trabalho quando vou às compras no tempo do almoço.

Quando esqueço até que considero algo de normal, mas nada lógico é no decorrer da recolha dos produtos, assim sem mais nem menos dar pela falta da lista quando tinha perfeita consciência que a trazia até porque os produtos recolhidos até aquele momento foram de orientação pela dita cuja. Garanto que a tenho sempre comigo, normalmente numa mão fechada para que não caia mas há sempre uma magia que a faz desaparecer, ainda no outro dia, segura de que a tinha comigo pois tinha a mão esquerda bem fechada, quando fui consultar o que faltava comprar percebo que tenho dois pequenos papelitos na mão, nenhum deles era a lista, um era a senha para o peixe outro era a senha da charcutaria. Estacionei o carrinho das compras e fui a todos os sítios onde tinha andado à procura da lista, naquele dia decidi que não sairia dali vencida por aquela perca mas sem sucesso e às custas de andar a ver dela deixei passar os números das senhas que tinha do peixe e do queijo, ora gaita!

A minha Amiga Bilas, a quem costumo contar esta peripécia, já me disse várias vezes que tenho de mudar de sistema, usar, por exemplo, agenda no telemóvel, porém, confesso que já fiz isso e não funciona, tenho lá eu paciência para estar sempre a desbloquear o telefone e ver a lista, não dá!

Todas as vezes que entro na superfície penso que aquela vez é que tem de ser a sério, consulto-a, trago-a debaixo de olho, vejo-a mesmo quando não é preciso mas depois, pffff, acontece uma magia e lá vai ela sei lá eu para onde, o pior é que nem dá jeito a mais ninguém e na verdade até duvido que alguém a encontre porque eu nunca tenho sucesso.

Enquanto aqui me exprimo lembrei-me duma solução, talvez arranjar um colar comprido que possa pendurar o papelito no dia de ir às compras em forma de um penduricalhozito para não dar muito nas vistas, não sei, aceito sugestões