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A Sorte da Raposa

Partilha de emoções, experiências, reflexões ❤

A Sorte da Raposa

Partilha de emoções, experiências, reflexões ❤

Trovoada à fatia

21.09.22, Dulce Ruano

 

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A natureza tanto tem de beleza ímpar como de medonha e perigosa, por exemplo, um incêndio, uma inundação, um vulcão, um tremor de terra, ou até um simples cogumelo venenoso ou um bicho que destila veneno para sua defesa, diria até o próprio ser humano. Tudo tem o seu lado maravilhoso e o seu lado assustador.

Desde pequena, quando ouvia trovoadas e via relâmpagos observava uma beleza extraordinária, ficava encantada com os fortes estrondos, confesso que por vezes tremia um pouco quando se ouviam aqueles cujos raios caíam no telhado da casa, ficava estática a ver a luz incrível que os raios emanavam, de noite então era um frenesim de emoções, os raios rompiam totalmente a escuridão do lugar de campo onde vivia, do negro imenso da noite saíam repentinamente luzes em formas de raios tão potentes que tudo se iluminava, no céu e na terra, sempre achei incrível este fenómeno da natureza o que me levava a ficar extasiada de emoção.

Via a maior parte dos adultos assustados, recolhiam-se para dentro de casa e os animais, principalmente os cães entravam e escondiam-se debaixo de qualquer coisa que lhes estivesse a jeito, achava-lhes uma certa piada e dizia-lhes que eram uns mariquinhas pé de salsa, eles lá saberiam a sua afronta. Havia trovoadas em que eu era a única da casa, no seio da grande Família, que ia para a rua ou se não me deixassem, ia, no mínimo para a janela porque aí já me deixavam estar.

Também me lembro que quando trovejava a minha avó aproveitava-se da situação e dizia-me “Vês minha filha, às vezes portas-te mal e agora o Jasus (Jesus) ralha contigo”, ficava sempre indignada com aquilo e conseguia perceber logo que era mesmo para se aproveitar de dar o recado a um deslize ou outro do meu comportamento como criança, na verdade a mim nunca me convenceu.

Mais tarde, os meus meninos desde muito pequenos que, apesar de não se meterem debaixo da cama quando trovejava, notava que tinham algum respeito pelo fenómeno, um dia tinham eles por volta de um 5 e outro 8 anos houve uma trovoada bastante forte acompanhada de relâmpagos, nessa tarde de sábado estávamos todos em casa, o céu ficava cada vez mais de cor de chumbo e achei que seria o momento certo de lhes mostrar a natureza no seu estado puro sem que tivessem de a recear.

Na altura nutriam uma grande paixão pelas destemidas Tartarugas Ninja, tinham fatos, espadas, a carcaça que punham às costas, as mascarilhas, achavam que vestidos a rigor encarnavam aqueles super heróis o que lhes dava poder e força. No momento que senti ser o certo para acabar com algum dúvida sobre o tabu das trovoadas chamei-os e pedi-lhes que se vestissem de Tartarugas Ninja, era importante trazerem as espadas para cada um incluindo uma para mim.

Em pouco menos de cinco minutos estavam trajados, fomos para a rua junto ao terraço da casa, assumi o comando e passei a dar-lhes instruções de uma espécie de guerra dizendo-lhes que os trovões e relâmpagos faziam o papel de mauzões que nos queriam atacar e nós tínhamos a missão de defesa, teríamos de estar atentos e ser certeiros mostrando aos mauzões que eramos fortes.

Pedi-lhes que colocassem as espadas ao alto em posição de ataque, fletissem um pouco as pernas para que no momento do ataque tivéssemos elasticidade para dar a golpada final e acima de tudo que ficassem à escuta, focados e concentrados no som que viria dos céus. Assim que se ouviu o primeiro trovão ripostámos com o nosso grito de guerra, vimos um raio que imediatamente atacámos numa única saltada, pudera, éramos três, estávamos unidos e fortes e assim foi com cada trovão que surgia.

Pouco depois a trovoada tinha sido derrotada, nós três de espadas em punho fazíamos o grito da vitória e do quanto eramos invencíveis.

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Depois deste momento em que acabámos por nos divertir imenso fomos comer torradas, bebemos leite com chocolate e conversámos sobre os fenómenos da natureza e dos seus encantos mas também dos seus perigos pelo que acima de tudo foi um bom momento pedagógico e que lhes valeu para a vida, tendo sempre em conta o respeito e os cuidados a ter perante tamanha ação da natureza.

Hoje percebo que desde bem pequena o quanto admirava o mundo, a vida, a natureza, os animais, as plantas, a terra, o ar, os oceanos, as montanhas, os seres humanos, toda a energia que flui no admirável planeta terra e arredores. Ahh e as Tartarugas Ninja também têm a minha admiração.