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A Sorte da Raposa

Partilha de emoções, experiências, reflexões ❤

A Sorte da Raposa

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A caminho de Paris sem saber

21.04.20, Dulce Ruano

20190518_191906.jpgAcontecem-me coisas, acho eu, iguais ao que acontecem aos outros, pelo que isso faz de mim, supostamente, uma pessoa normal, acho eu também!

Na prática, às vezes parece que não é bem assim, ou será que a maioria das pessoas só conta o que de bom e bonito faz e acontece ou então sou eu que vejo piada no que me acontece de menos agradável, sei lá eu o que isto quer dizer, pode ser tanta coisa.

Há uns tempos andava a morrer de desejos de fazer um percurso de alguns Kms por uma linha férrea desativada em Espanha que termina em Portugal, nem a minha alma descansava enquanto não o fizésse, chegou a oportunidade e fiz, porém aconteceu uma coisa....

Esta aventura de 17 Kms num percurso que começa na Estação de La Fregeneda em Espanha e terminaria na Estação de Barca D'Alva em Portugal, com 11 pontes e 20 túneis, começou com a amabilidade do Sr. Orlando ir connosco para nos deixar na Estação espanhola e ele regressaria a Barca D'alva com o nosso carro que guardou num lugar seguro e fresco.

Sr. Orlando passou uma parte da sua vida em Barca D'Alva, trabalhou nos caminhos de ferro na zona do Porto porém quando chegou a idade da reforma regressou à sua terra onde passa os seus dias com pouco que fazer mas é bastante prestável e uma das vezes que fui àquela terra que eu adoro metemos conversa com ele ficando nosso amigo.

Apesar de termos feito um estudo prévio do trilho, condicionantes e necessidades deixámo-nos levar por alguém sábio no assunto depositando confiança no Sr. Orlando, chegados à estação em Espanha deixou-nos e regressou a Barca D'Alva mas só partiu depois de nos deixar de ver ao longe...

Fomos uns inocentes e não consultámos o mapa que ainda prevalece naquela estação deixando-nos levar pela intuição, das duas uma, ou íamos para a direita ou para a esquerda.

Digamos que sob a aprovação (teoricamente) do Sr. Orlando, seguimos para a esquerda, felizes, contentes e airosos, repletos de emoção pela aventura que estávamos a começar, mal nós sabiamos o destino que estaríamos a levar.....

Iámos, de certa forma, ansiosos que a todo o momento surgisse o primeiro túnel e a seguir a primeira ponte, sabíamos que a linha estava limpa e as pontes arranjadas mas depois de andarmos um bom bocado em linha cheia de matagal, rochas e afins eis que nos surge um obstáculo tanto perigoso como delirante, por breves momentos me inclinei à idéia de voltar para trás reduzindo-me à insignificância de um pequeno roedor ao mesmo tempo surge em mim uma coragam dinausoresca usando a infalível técnica do ignorar totalmente o perigo que será a melhor forma de fazer isto!

Esta ponte deverá ter perto duns 200 metros e talvez uma altura duns 30, madeiras do ano de construção, 1887, isto é, completamente podres e destruídas que davam a impressão que se ali pousar uma simples folha se esbardalhará por ali abaixo, eliminei completamente a idéia de ir pelas madeiras e a única forma foi passar pela trave de ferro com saliências esféricas para atrofiar mais a passagem!

Ponte_Velha_3.jpg

Tentei não pensar em nada, esvaziei o cérebro completamente respirei fundo e acreditei muito nas minhas capacidades sentindo ao mesmo tempo uma liberdade em mim que permitisse fazer aquilo na boa, é que teria de confiar no meu equilibrio artistico ao mesmo tempo desfrutar daquela brutal adrenalina, obviamente não podia fechar os olhos e ainda tinha que filmar e bater umas fotos. Para vos aguçar o apetite desta travessia aqui fica o registo em video  A caminho de Paris

A meio da ponte havia aquele ventinho caracteristico da altitude o que me levou a esticar o braço a um corrimão fininho, enferrujado e sem segurança nenhuma, para chegar a este corrimão que estava bastante distante do tabuleiro estiquei o braço todo e inclinei o corpo de modo a tocá-lo, e a meio percebi que os últimos metros de ponte já não tinham corrimão, a emoção superava qualquer medo, aliás, medo?! que é isso? nem me passou pela cabeça! Foi brutal! 

Ponte_Velha_Velha.png

Após aquela passagem de tão frenética, a emoção invadiu-nos de tal forma que continuámos sem grandes questões de porque é que a linha estava tão abandonada e aguardávamos com enorme expectativa metro a metro que chegassem então os túneis, porém, na pacatez das nossas conversas delirantes sobre coisas da vida e de tão felizes de ali estarmos não nos demos conta do nosso progresso e a verdade é que nem túneis nem pontes não surgiu mais nada. Que estranho!

A nossa atividade estava bastante aquém do plano que tinhamos programado e após uns 10 Kms em condições de trilho bastante árduas, um dos 3 elementos que éramos parou e consultou o GPS dizendo em voz alta "Calma, lamento dizer-vos mas nós estamos a ir em sentido contrário", bem, confesso que eu e o outro colega mudámos de cor e caiu-nos tudo ao chão dizendo "Ohhh JM não nos lixes, não brinques com coisas sérias, p***" a partir dali dissémos vários pares de asneiradas cuja reprodução a minha moral não me permite, mas imagine-se!

Estávamos completamente perdidos, voltar para trás não estava nos planos de forma nenhuma, se o fizéssemos já não teriamos condições fisicas para fazer o trilho correto e que tanto queríamos, dizia um deles "liga lá para o Sr. Orlando para nos orientar" e respondi "mas ligo-lhe e digo-lhe que estamos onde?" "pois, não sei, eu também não sei". Era perto de meio dia, o calor já se fazia sentir, já estávamos cansados, o trilho tinha sido como desbravar uma mata selvagem, o ânimo de rastos mas tinhamos de fazer alguma coisa.

Consultámos novamente o GPS e vimos que a uns 4 Kms dali estava um pequeno povo Hinojosa de Duero vendo bem as coisas estávamos no caminho certo para chegarmos a Paris é que aquela linha vem do Porto, atravessa Espanha e termina em Paris, eheheh ainda estivémos para continuar, o que ainda nos divertimos com isto, com pouca força mas rimo-nos.

Ligámos com Sr. Orlando e contámos a nossa história ele ficou completamente atarantado sentindo de imediato um peso na consciência dizendo "Pois, a culpa é minha, desculpem, vi-os sair da estação e nem me topei que iam na direção errada, e agora que fazemos?" "Sr. Orlando temos uma pequena povoação a 4 Kms vamos para lá, almoçamos umas sandochas e o senhor faz o favor de nos ir lá buscar", "Com certeza, estou só a acabar de almoçar com a minha mulher em Escalhão e vou em seguida para lá, até já".

Depois de termos parado e comer já nos doía tudo da cabeça aos pés, foi bastante extenuante, um total de 14 Kms mas ainda assim estávamos decididos a voltar ao ponto de partida e começar tudo de novo, parecíamos o Popeye que tinha acabado de comer uma lata de espinafres, cheios de pujança para fazer o tão brutal trajeto da Rota dos Túneis mesmo sabendo que eram mais 17 Kms, mas que s'a cozesse!

Regressados novamente à estação da Fregeneda e dando inicio  para o lado direito que era o que haviamos de ter feito de manhã, agora eram 13:15H e iniciávamos então a aventura certa que podem ver aquiEmotions in beiras - A Rota dos Túneis.

Lanço o desafio a quem quiser fazer esta atividade, acompanho com todo o prazer, mas ... prometo que desta vez viramos logo à direita 

 

 

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