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A Sorte da Raposa

Partilha de emoções, experiências, reflexões ❤

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A lata do Creme Nívea

25.02.22, Dulce Ruano

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Há campanhas de marketing que funcionam tão bem ao ponto de, na década de 70 ou 80, ver as bolas azuis gigantes do creme Nívea no areal das praias, imagem que nunca esqueci e o efeito que produziu esta campanha foi tal que atualmente, uma vez que a minha pele passou a mais seca do que mista, me veio à tola aquela imagem da bola azul lá no alto para que toda a gente a visse bem, parecia a torre Eiffel das praias portuguesas.

Desde há uns tempos que quase só uso a latinha de creme nívea que também é azul, bastante prática e daquelas coisas que não dispenso da carteira, da casa de banho e da gaveta da secretária do trabalho, sempre que me lembro vou comprando umas latas para ter de reserva, reconheço que sou um pouco distraída e não me vá a acontecer como as esponjas de lavar a loiça que quando estive em isolamento vi-me aflita que me faltaram e ia sendo o fim do mundo na cozinha não fosse lá o meu pai discretamente deixar uma embalagem de esponjas à porta de casa.

Mas a verdade é que a pouco e pouco as latas do creme foram acabando, uma a uma ficando sem reservas e por mais incrível ainda é que acabaram todas ao mesmo tempo. Sei lá eu como isto aconteceu.

Com a lata que tinha na casa de banho bem meti a unha na ranhura a toda a volta para apanhar as últimas resteas de creme até que decidi deitar fora mas antes pensei que se a metesse no bolso teria de me lembrar tantas vezes que não escaparia sem a ir comprar neste dia. Entrei no carro para ir trabalhar, deixei a lata no assento ao lado, pensei que um lembrete visual não iria escapar da minha distração.

Idealizei neste dia que não iria a lado nenhum no tempo do almoço até porque tenho imensas coisas para estudar e aproveito o tempo da pausa. Como sempre, no período da manhã vou ao refeitório da empresa pôr o almoço a aquecer na estufa, mas, neste dia, sei lá eu como peguei na mochila, abri o fecho duma ponta à outra, abre-se toda de tal maneira que a caixa de vidro cai para o chão espatifando-se no chão com vidros espalhados e misturados com o rico puré de batata e as duas pernocas de frango do forno cobertas de molho, ai, que aflição que eu só dizia “logo hoje que o almoço me saberia a ginjas, ora gaita”.

Com a ajuda de Maria Flor apanhámos os destroços misturados com aquelas perninhas de frango mais boas que sei lá o quê e eu já pensava que tinha de almoçar fora e já não poderia estudar o que tinha previsto mas também pensava que seria uma boa oportunidade para comprar a lata de creme Nívea.

Quando estou sozinha não me agrada comer no restaurante, quanto mais não prefiro eu improvisar as condições que necessito para comer dentro do carro, pode parecer aberrante mas a mim dá-me um prazer imenso comer lá, preferencialmente no assento de trás, claro que no verão não se pode lá estar com calor mas noutras épocas sabe mesmo bem, até um tabuleiro improvisado lá trago.

Fui comprar comida num restaurante perto do trabalho, tinha visto a página deles nas redes sociais, tudo com aspeto delicioso, optei por um Arroz à Valenciana e fui avidamente para o estacionamento do hipermercado que estava ali a uns 150 metros, nem via o momento de lá chegar e sentir o prazer de amarfanhar a arroz.

Tinha tudo planeado, onde comprar a comida, onde ir comer, além do ganho de tempo teria também o ganho da oportunidade de estar junto a um lugar onde poderia comprar o creme e ainda tomar um café.

Quando entro no hipermercado e vou pelo corredor até à entrada está a secção de fruta e como sou uma grande adepta fiquei com os olhos arregalados mas tentei me controlar e não me pôr separar sacos para fazer compras de fruta variada, cheguei-me novamente à entrada, faço sinal à menina dos cafés e digo-lhe “por favor, tire-me um café cheio e guarde aí que eu não gosto do café muito quente além de que só vou comprar uma coisa e não demoro”.

De facto assim foi, volto à entrada da fruta, pego num caxo de bananas e vou para a caixa pagar, confesso que senti algo de esquisito mas achava que seria apenas uma impressão estranha, paguei as bananas, dali pago o café, tomei, estava no ponto ideal e regresso ao carro que estava a hora muito próxima da entrada no trabalho.

Sentia-me satisfeita, tinha o acalento de que tudo tinha encaixado muito bem e dirijo-me para o carro, quando me sentei saltou-me a tampa, olhei para a lata do creme Nívea e percebi que afinal em vez de uma lata de creme tinha comprado um cacho de bananas.

E a vida continua....

 

 

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