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A Sorte da Raposa

Partilha de emoções, experiências, reflexões ❤

A Sorte da Raposa

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A noite que dormi em cima dum sapo

12.05.20, Dulce Ruano

COVÃO_SAPO_SAPO.jpg

 

Certa vez ... atravessávamos o mês de Novembro, já estava frio, dias curtos e cinzentos, eu, meu companheiro, a Sissas e o Clapton.

Com o fim de semana a chegar, sôfregos por aventuras e diabos a quatro, fomos acampar por dois dias. Agarrámos nas barraquitas, sacos cama, um tacho, fogão e mais umas coisas necessárias para o acampamento à selvagem, o destino estava mais que decidido, Covão D'Ametade na Serra da Estrela. (Poderão saber mais qualquer coisita sobre este lugar neste link: O rio Zêzere nasce aqui)

Chegados ao Covão D'Ametade, mochilas para o chão e toca a procurar um lugar para montar as barraquitas, havia imensas folhas e o chão estava molhado, é uma zona bastante húmida devido, não só por já ser inverno mas também ao arvoredo que o constitui.

Não foi difícil encontrar pouso, havia muito espaço e o folhelho estava bem macio, depois de tudo preparado andámos por ali a engonhar sem fazer rigorosamente nada até que chega a noite, 6h da tarde, naquele local fica escuro a valer, rodeados por grandiosas escarpas de granito escuro, os quatro completamente sózinhos, entregues à aventura e ao entusiasmo.

Dos mantimentos que tinhamos levado sai de lá um frango depenado temperado com sal a pedir umas brasas mas era preciso fazê-las e aqui surgiu um grande problema, como estávamos na montanha achávamos que seria tarefa fácil porém era preciso procurar lenha indicada, coisa que ninguém pensou a tempo nem tão pouco nos lembrávamos que estava tudo molhado devido à chuva que se tinha feito durante a semana.

Ainda assim arranjámos uns galhos soltos e umas hastes de giestas a que botámos fogo, porém se foi coisa que se viu foi só fumo denso sem sequer surgirem chamas, como é que aquilo havia de arder se estava tudo encharcado. 

As horas iam passando e não havia condições para a churrascada até que os quatro cromos decidiram agarrar no alguidar do desgraçado do frango e atirá-lo para o contentor do lixo, foi frango e foi alguidar já nem sei muito bem porquê.

Fazer comida já estava fora dos planos, corremos os fechos das barracas e lá vamos nós a todo o speed no percurso do vale glaciar a caminho de Manteigas à procura de restaurante.

No fim do jantar, se por um lado já dava era vontade de regressar a casa, por outro tinhamos a adrenalina no corpo para perceber como iria ser passada aquela noite numa escuridão de meter medo. Após o regresso, armados em fortes e gente bonita sentámo-nos numas rochas a contar umas larachas, tantas que contámos e rimos que acabaram em histórias de fantasmas, espiritos malvados e homens sem cabeça, era com cada uma que aquelas personagens nos invadiram ao ponto de tremermos que nem umas varas verdes!

Como se não bastasse estarmos assustadinhos de todo com o que cada um ia contando viamos no nosso redor o recorte do rochedo escarposo que na penumbra mais lembrava uns fantasmas prontos ao ataque e aqui foi o momento de pé ante pé recolhermos às nossas casotas, ainda bem que estavam mesmo ali ao nosso lado, porque para entrar já foi de rastos.

O lugar do Covão D'Ametade é um lugar lindissimo durante o dia porém admito que de noite meteu-nos um grande respeitinho, o problema depois foi dormir, sossegadinhos sem mexer uma palha até que com o silêncio que faziámos ouvimos uns barulhos estranhos no folhelho a aproximar-se cada vez mais de nós, claro que ninguém meteu o nariz na rua e provavelmente teriam sido cães selvagens, ou raposas, ou talvez teriam sido fantasmas à procura do frango que até já estava temperado. Não sabemos o que foi e também nunca quisémos saber.

Grande alivio com a chegada da madrugada e do sol voltámos a sentirmo-nos alguma coisa de jeito e por ali passámos o dia até chegar o tempo de irmos embora. Depois de arrumar tudo faltava desmontar as barraquitas, assim que estamos a enrolar a base da tenda deparámo-nos com um sapo, um grandessissimo sapão completamente atarrachado no chão, quase que desmaiei, tinha dormido em cima dele nem querendo imaginar o sufoco do bicho, coitadinho, o que ele deve ter sentido com os meus tremelicos toda a noite!

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