As cruzes do campo
Há tarefas em que dedicamos tanto esforço físico e emocional que depois chegamos ao fim e não têm o efeito desejado ou o reconhecimento do sacrifício com que se fez e isso deixa-nos, em certa parte, frustrados e até um pouco desanimados mas pior disto tudo é baixar as armas e darmo-nos por vencidos!
Viver no campo ahh e tal é tão bonito, pois é. E trabalhoso então. Tanto. Pior do que isto é dar o corpo e a alma à aspiração, à esfregona, aos paninhos e sprays e já agora mais isto e mais aquilo. Ninguém aguenta e tudo abana dentro de mim quando penso que aquela dedicação, aquela entrega gloriosa tem pouca duração, pois logo alguém sujou aqui ou ali, mal termino não aguento ver alguém a entrar ou passar e ainda com um ar angélico dizem “Ahh eu não piso nada, olha aqui vou em bicos de pés” Que falta de compreensão contra mim, ai se imaginassem o meu sentimento naqueles momentos, saem-me lavaredas pelos olhos!
Depois de uma semana intensa de trabalho imenso, só alguém mesmo arrojado tem a pica de fazer limpeza à casa, mas é preciso, é um facto! Termos o lugar onde vivemos limpo contribui para uma lista de fatores agradáveis à vista e ao coração, faz-nos sentir melhores, reconheço que é imperativo mas confesso que não gosto nada, é uma seca, dá imenso trabalho e sinto sempre que podia estar a fazer outras coisas mais interessantes.
Apesar de ir dando manutenção básica sinto que de vez em quando tenho de fazer uma passagem mais profunda e numa dessas vezes, estávamos no inico da Primavera, as terras à volta da minha casa pediam cultivos, antes tinham de ser preparadas, lavradas, gradeadas, assentar para as sementeiras, parece tudo muito bonito não fosse ter escolhido este fim de semana para limpar a casa de forma aprofundada.
Aspirei, limpei pó, esfrunhei, passei esfregona nos mosaicos, no chão de madeira, limpei janelas e portas, vidros interiores, lavei tapetes, lancei mangueiradas nos terraços da frente, de trás e lateral, aproveitei e lavei o passeio dos paralelos à volta da casa, sentia-me uma verdadeira mártir da limpeza mas sabia que tinha de o fazer e no final a satisfação era enorme, porém, por pouco não cometi um atentado, não é que andavam quatro, sim, quatro (4) tratores industriais a lavrar as terras em volta. Ninguém merece!
Quando me apercebo via enormes nuvens de poeirada por todo o lado, fiquei especada a olhar para eles e com uma enorme vontade de chorar, quanta coincidência aquela em que foi tão difícil encorajar-me nas andanças da limpeza profunda no mesmo dia que decidem lavrar, apetecia-me furar aqueles pneus todos, cortar-lhes os tubos do combustível, apetecia-me ser má e ainda olhei meio de lado os senhores que conduziam, vi que não perceberam nada.
Os terraços ficaram imundos, as janelas por fora nem digo nada e para piorar alguém em casa decide tomar banho gastando 300 litros de água quente o que provocou uma gigante nuvem de humidade dentro da casa de banho mas claro, não podia abrir a janela para o pó não entrar. Voltei a ter vontade de chorar, foi só vontade, não o fiz, estava demasiado mal disposta e rancorosa para verter lágrimas.
No final do dia tinha um sentimento misto com cansaço, sensação de rastos e cara de poucos amigos, pior fiquei quando me lembrei que no dia anterior tínhamos limpo, após todo um inverno sem o fazer, a zona exterior do churrasco, palavras para quê!
Mas calma, declaro que apesar de todas as emoções sentidas não me torci nem só um bocadinho, no fundo até me ri, já vai o tempo em que me consumia por ondas negativas, o otimismo impera e em vez de chorar, há que rir mas se tiver que chorar então que seja de rir