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A Sorte da Raposa

Partilha de emoções, experiências, reflexões ❤

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Cacau da noite

09.03.20, Dulce Ruano

Cacau_copo.jpg

Fazíamos parte do grupo de montanha e na altura era organizado uma atividade no mês de Março - A marcha noturna do Ti Amadeu - a partir das dez da noite, começava no centro da cidade até à Torre - Serra da Estrela - os elementos do grupo ficavam distribuídos pelos diversos postos de controlo ao longo do percurso. Num determinado ano eu e meu marido fomos destacados para a casa abrigo nas Penhas da Saúde com a missão de fazer cacau e registar todas as pessoas que eram obrigadas a fazer o controlo da sua passagem, eram muitos, não me recordo bem mas creio que passava de uma centena e meia de participantes.

Cacau_panela.jpg

 

Na casa abrigo havia duas panelas gigantes onde aquecíamos o leite e misturávamos carradas de pacotes de cacau, as pessoas iam passando, servíamos a bebida quentinha para repôrem energias e continuarem dali até à torre, como iam chegando vez à vez e havia momentos em que chegavam muitos de uma vez só não havia mãos a medir era necessário estar constantemente a deitar leite e cacau, servir os copos mantendo sempre uma temperatura agradável, além do mais havia ainda o registo individual de cada um, chegámos a uma altura em que só o cheiro daquela delicia já nos enjoava, foram várias horas naquilo, ansiávamos pelo último participante, pelo último copo de cacau! estávamos estourados, mais cansados do que se tivéssemos feito o percurso e bem duro que é.

Creio que terminámos a nossa tarefa pelas três e tal da manhã, fechámos tudo e decidimos ir apanhar ar fresco à Torre ao mesmo tempo acompanhar os caminhantes e vê-los chegar. Havia uma bela feijoada para todos que aproveitámos para desenjoar de tanto cacau que já deitávamos pelas pontas dos cabelos, porém o cansaço dominava-nos decidimos assim regressar a casa e descansar.

Tinhamos o Frank com três anos que nessa noite ficou em casa dos meus pais, na altura morávamos a 500 metros de distância, ele já tinha ficado tantas outras vezes e sempre ficou bem nunca deu trabalho a ninguém, nunca acordou a meio da noite e por tal ficávamos tranquilos. Nessa noite chegámos a casa às quatro e meia da manhã, cheios de sono, deveras cansados, desejosos de amortecer na cama até de manhã, porém, passados quinze minutos alguém toca a campainha, acordámos sobressaltados e perguntámos um ao outro quem seria o louco que se atreveria de nos tocar a campainha a uma hora daquelas sabendo que estava uma noite gélida de inverno, logo naquela noite que tanto precisávamos descansar.

Levantei-me, fui atender pelo intercomunicador e ouço a voz do meu pai que dizia "Sou eu, abre lá a porta rápido que estou aqui com o Frank embrulhado num cobertor, esperneia por todos os lados só chama pela mãe aos berros e não o conseguimos calar, isto nunca aconteceu!"

Caiu-me tudo ao chão! como, porquê, que mal fiz eu para isto me acontecer! Desespero! De facto quando me aproximo do meu pai, Frank chorava imenso mas assim que sentiu o meu colo calou-se imediatamente, parecia que lhe tinha carregado num botão, achei que essa noite deveria dormir connosco não fosse ele sentir que estava sozinho na cama e chorar de novo, precisava de garantir o meu descanso e evitar a minha própria tortura.

Deitámo-nos os três na cama, Frank ao meio, assim que desliguei a luz do candeeiro, ouvimos um grito estridente e silábico que dizia "Buáááááááááááááááááá, que-ro o-o-o avô, buáááá que-ro o-o-o avô, o-o-o-o-avô! buáááááá-o-avôôô.

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Epá! pára tudo! confesso que essa noite tive vontade de o deitar janela fora! 

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