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A Sorte da Raposa

Partilha de emoções, experiências, reflexões ❤

A Sorte da Raposa

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Dia à minha maneira

25.06.20, Dulce Ruano

Metallica cabrinha.jpg

Há dias da nossa vida que nos marcam mais que outros, por boas ou menos boas razões, é um facto. Tanto enalteço pelo bom ou pelo menos bom, maioria ficam-me na memória que é o melhor baú de recordações que se pode ter mas com o tempo há detalhes que se esvanecem, limam-se como se uma rocha se tratasse pela erosão do tempo, ela está lá mas não da mesma proporção quando surgiu, assim é na vida de todos nós, o tempo lima os pormenores do que se vive, diminui a intensidade das emoções, das imagens que os nossos olhos retêm.

Um dia ... talvez tenha sido há uns três anos... um dia daqueles bem preenchidos...

Estávamos em  Fevereiro, o tão aguardado dia de ver Metallica uma vez mais, o bilhete tinha-o desde Março do ano anterior, quase um ano na expectativa, era só mais um dos muitos concertos que via desta banda ao vivo, no penúltimo estive sete meses à espera, desta vez a espera foi mais longa, onze meses....

Comprei quatro bilhetes, para dois cá em casa e dois amigos que vinham de França de propósito ao concerto, era um dia de semana, talvez uma quarta ou uma quinta, lembro-me que fui trabalhar, levantei-me às sete da manhã. Tive uma manhã bastante agitada nem dava tempo a suspirar, dava aviamento a tudo o que ia chegando e sabia que tinha de dar o meu máximo para que nada falhasse, tratar das prioridades, deixar recados, tudo correu bem, não deixei nada por fazer.

Saio para almoçar e seguimos viagem. Levávamos o Frank, aproveitou a boleia para visitar a amiga Rita, teríamos de o deixar no Martin Moniz mas na chegada a Lisboa, como passámos muito próximo da Praça do Comércio fomos ao encontro dos amigos de França que nos aguardavam junto à estátua de D. José desde as três e meia e já eram quatro. Não usam telemóvel, não sentem necessidade e viajam por todo o mundo, uma semana antes marcámos o lugar e hora por telefone fixo, quando os vi abraçámo-nos com emoção.

De seguida deixámos Frank no Martin Moniz e estacionámos por lá, seguimos para a Baixa a pé, parámos no Nicola como manda a praxe, gosto daquela esplanada e gosto muito da Baixa.

Seguimos pelo Chiado, passeámos pelas ruas, íamos conversando, descemos na direcção do Cais do Sodré, passámos junto à Pensão do Amor, ufff tanta vez que já lá tentei entrar mas está sempre cheio e não se consegue, talvez porque é sempre à noite, zona de grande movimentação noturna, já lá passei noites espetaculares, mas naquele dia eram umas cinco da tarde, os nossos amigos também tiveram curiosidade, entrámos.

É um lugar de tão fantástico de quanto estranho, decoração carregada, ambiente muito sossegado (por ser de dia, à noite torna-se agitado) as pessoas quase não falam, apenas estão ali mas nós tínhamos de falar, há um ano que não nos víamos e falámos baixinho.

Tem várias salas, a seguir à da entrada onde estávamos tinha o balcão, passava-se através de uns grandes cortinados de veludo azul petróleo, em seguida tinha outra sala com as paredes decoradas de lantejoulas e no centro tinha um varão, depois outra sala com as paredes forradas a veludo leopardo, várias fotos de Marilyn Monroe, em anexo uma pequena sala com um sofá vintage e um pequeno resguardado que tinha uma mesa e duas cadeiras.

A seguir a esta sala , mesmo ao lado há uma sex shop cuja publicidade já nos tinha sido feita antes por uma menina que nos deixou um cartão em forma de convite mas estavámos no limite do nosso horário e não conseguimos explorar tudo o que aquela casa tem, ficaria para outras visitas.

A casa de banho intrigou-me: é um espaço  bastante reduzido, tem uma pequena porta que após entrar concluímos que devemos entrar de costas e encaixar o rabo no lugar de fazer a nossa necessidade, é baixa e tão pequena tão pequena nada aconselhável a claustrofóbicos, não é uma casa de banho para todos, é só para gente de estatura pequena e sem grandes avarias de organização do serviço fisiológico.

Quando saímos do bar já era de noite, fomos ao carro buscar os bilhetes, sim, desta vez tinha-os levado! Apanhámos o metro para o Oriente. O Vasco da Gama na área da restauração estava um caos, um caos pintado de preto, grande maioria das pessoas estavam vestidas de preto e com T-shirts dos Metallica, vi uma de AC/DC  eheheh estaria enganado, quem sabe.

Comemos qualquer coisa e entramos no Altice onde já se assistia às centenas de pessoas nas filas, havia um rapaz que dizia a cada pessoa que se aproximava: “PLATEIA PARA ESTE LADO, BALCÕES PARA AQUELE LADO”, espero que lhe tivessem pago bem, merecia.

Entrámos sem percalços e desfrutámos bem do bilhete, tinha mesmo valido a pena, correu bem, às vezes não gostamos. Terminou à meia noite e dez, por aí. Saímos sem atropelos, seguimos para o metro e quando dei por ela toda a gente do concerto foi apanhar o metro, chegados à estação dizia um segurança, “xiiii com tão poucas carruagens, isto vai ser bonito, vai!” desvalorizei, aguardávamos com ansiedade a chegada do metro mas fogoooo, parece que todos aguardavam ansiosamente pois quando chegou, ficou a rebentar pelas costuras em segundos, ora, aguardamos pelo próximo, já não haverá muita gente.

Veio o próximo, foi pior que o primeiro, nem queria crer! A preocupação já nem eram os 300 Kms que ainda tinhamos até casa mas sim o Frank que entretanto estava prestes a ficar sozinho no Martin Moniz, teenager, pensava nele como um garanhão mas depois pensava que era meu, ai, ai, aquela espera já me estava a sugar o sistema nervoso.

Vem o terceiro metro e nós os quatro alinhavamo-nos para o mais próximo possível de uma entrada como se nos estivéssemos a preparar para uma maratona e aguardar o sinal de partida, mas valeu, fomos dos primeiros a entrar. Perfeito! Sim, poderia ter sido, não fosse uma grande multidão ter entrado também, credo, ia ficando sem ar, estávamos todos apertados uns contra os outros, lembrei-me das pessoas claustrofóbicas, dariam uma sessão de desmaios, quase que sufoquei!

Iniciou-se a primeira paragem, tentei olhar pelo sobrolho para perceber quantas pessoas iam sair, mas nada, nem uma. Próxima paragem lá botei o meu olhar para a porta pelas brechas das barbas aloiradas de um inglês mas nada, nem uma pessoa saía, eu já me questionava como é que ia sair daquela multidão que me apertava ao chegar à estação de Martin Moniz, passaram as estações todas e na penúltima saíram duas pessoas mas os apertos mantiveram-se.

Finalmente chega a estação para sairmos e eu pensava como é que íamos abrir caminho para chegar à porta, para meu espanto saiu toda a gente, até parecia uma cena de flash mobe.

Contava os minutos, duas coisas me preocupavam, o Frank sozinho e se por alguma razão o parque estaria fechado, pois, podia acontecer só se preocupa quem pensa e eu penso muito, arghhhh não gosto nada de ser assim!

Mas também pensava que ainda tinha outra linha de metro para apanhar e havia tanta gente na mesma direcção, mas lá entrámos à primeira e apesar de não ter sido necessário ficarmos em posição de maratona conseguimos entrar na frente, já não havia tanto aperto, cá pra mim quem nos apertou na outra linha foi o casal que tinha saído, aqueles únicos dois que saíram.

Chegados ao destino, estava cada vez mais perto do Frank, só me focava nele, tão atarantada que atravessei o parque para o outro lado em busca dele e afinal troquei-me, ele estava precisamente no lado da saída do metro. Olhei para ele percebi que estava bem, ainda assim perguntei três vezes, estava mesmo! Até disse que eu era uma chata!

Entrámos no estacionamento estava fechado, eheehhe bruxa! Fomos a outra entrada, eheheh és mesmo uma bruxa!! Mantive a calma. Apenas uma única entrada estava aberta, chegava bem, senti mais um alivio.

Fiquei com dúvidas se deveria conduzir ou não, estava já muito cansada mas enquanto JM pagava pedi-lhe a chave para entrar e pergunta: “levas tu?” marcou a sentença com aquela  pergunta.

Ligámos o GPS para perceber por qual rua deveria sair, não queriamos perder tempo, era uma e cinquenta da manhã, fiz logo contas ao tempo e deduzi que iria chegar a casa por volta das quatro e meia.

Pouco trânsito, ehehe parecia a minha cidade pacata e sem trânsito de noite mas estava em Lisboa, não se via ninguém na rua, nem carros, estranho pensar que é uma cidade à escala mundial, tanto melhor para mim, entro na A1 e percebi que tinha de focar cada lente de cada olho, as luzes de presença vermelhas dos outros carros incomodavam-me imenso, se as massagens que fiz arrancassem olhos teria ficado sem eles, fiz assim a viagem toda, dentro do cansaço que trazia e de tudo o que meu corpo e espirito já tinham passado desde as sete da manhã, já sentia o peso em tudo o que era em mim ainda assim avancei com as capacidades que me restavam.

A meio do percurso da A1 senti que não chegaria assim tão tarde a casa e tentei manter-me entre os 140 e 150 Km, achei que aquela hora da noite não haveria perigo, não consegui mais do que esta velocidade, ainda tentei mas seria arriscado. Cheguei a casa às três e cinquenta. Para mim, foi um record! Duas horas de Lisboa a casa.

Sentia fome, ainda comi, deitei-me eram já quatro e meia da manhã. Apaguei a luz e senti que naquele dia já não havia mais nada a fazer senão descansar.

 

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