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A Sorte da Raposa

Partilha de emoções, experiências, reflexões ❤

A Sorte da Raposa

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E quando o mais novo concluiu o 12º Ano

26.07.21, Dulce Ruano

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O chavaleco cá de casa tornou-se num homem e quando era mesmo chavaleco deu-me cabo do juízo, foi e fez de criança até ao último segundo a que teve direito e logo a seguir transformou-se da noite para o dia passando a ser um homem a lutar e conquistar o seu mundo.

Chegou uma nova etapa da sua vida, atinge a maioridade, prepara-se para um novo ciclo de estudos e está na reta final do secundário mas tem de apresentar um projeto de empreendedorismo na área do turismo.

Preparou tudo sozinho, não me permitiu sequer ler e por mais que oferecesse a minha colaboração fui rejeitada em todas as minhas tentativas o que achei sensato, ele tem de fazer aquilo que sabe por isso é que anda a aprender.

Aproxima-se o dia da apresentação e sugeri estar presente porém disse-me que eu estando lá só o iria deixar mais nervoso, já bastava ser o holofote e estar exposto ainda tinha o júri a avaliar. Compreendi, mas eu queria tanto estar lá, fechar um ciclo da sua vida, fazer de amparo, ao mesmo tempo queria-o respeitar mas, bolas, eu queria mesmo tanto estar lá.

 

No próprio dia decidi que ia estar, marcado para as 14:30h. entrei na escola, fui direto aos serviços administrativos, surgem dois dos seus professores a quem disse:

Sou mãe do Duarte, venho assistir à sua apresentação mas ele não sabe e também não pode saber, preciso de entrar no auditório sem ser vista”, prontificaram-se imediatamente conduzindo-me à porta do auditório mas do lado exterior, ao entrar estavam de costas, coloquei-me na última fila estrategicamente atrás de uma menina e uma senhora que faziam uma bela barreira e não poder ser vista.

 

Num determinado momento recebo mensagem do Duarte no whatsApp, por momentos achei que iria ler algo do tipo “Mãe, não vale a pena esconderes-te que eu já te vi” mas não, eram questões que estava a colocar sobre o meu blog de viagens e que ele tinha usado numa parte do trabalho dele, respondi a tudo com algum entusiasmo porque afinal apenas uma fila de cadeiras nos separava e ele não fazia a mais pequena ideia.

 

De vez em quando Duarte virava-se para a direita, para a esquerda, dirigia olhares para os colegas, faziam sinais, conversava com a professora que estava à sua frente chegando mesmo a mudar de lugar para junto dela, percebi que estava a colocar observações ao que ela lhe respondia mas toda esta movimentação deu cabo de mim, constantemente a proteger-me atrás da minha barreira que era a melhor que podia ter, ainda assim em determinados  momentos a melhor estratégia era baixar-me totalmente até tocar nos meus ténis e de vez em quando levantava o gargalo para observar se já me podia levantar. Fui estando nestas posições malucas durante uma hora e meia ou mais e acalentava-me a ideia de que não lhe tinha escolhido um nome que começasse por Z pois eram chamados por ordem alfabética e já me dava por satisfeita com a letra D.

Mantive a minha paciência e sacrifício nos três Ás e ainda nos dois Cs mas a partir do D comecei a entrar em ansiedade por saber que estava prestes a aliviar o físico. Foi chamado o Dinis e pensei que o Duarte seria a seguir porém ainda foi um Diogo na frente e eu cada vez mais desesperada no meu esconderijo e como se não bastasse havia já um bom bocado que me dera vontade de fazer xixi, tinha sede mas recusara-me a beber água para que a minha vontade de aliviar a bexiga não entrasse no seu limite.

Assim que termina o Diogo, saltitava mentalmente convencida que era já o Duarte mas de repente sucedeu uma coisa que me deixou em pânico total e até soltei um palavrão no verdadeiro acto do desespero, é que um professor responsável de júri anuncia um intervalo de dez minutos.

A minha barreira levanta-se imediatamente, fiquei totalmente despida de proteção e os meus neurónios automaticamente mexeram a mil à hora em busca duma solução espontânea, foquei-me de imediato nas costas do Duarte que tinha acabado também de se levantar seguindo em frente atrás de outros o que foi uma mais valia para mim.

Mal saiu fui ter com dois professores que tinham ficado e lhes transmiti o meu objetivo bem como a dificuldade de me manter ali dentro pois quando o Duarte voltasse do intervalo iria dar comigo na sala com toda a certeza, é que nada me garantia que a minha maravilhosa barreira chegasse antes dele.

O professor sugeriu que eu fosse pra o exterior pela porta dos fundos e esta ficasse encostada para depois poder entrar porém quando cheguei ao exterior deparei-me com um problema, havia um estoro nessa porta que estava corrido até ao fundo e eu não conseguia ver absolutamente nada para o interior mas de imediato solucionei este problema.

Quando entrei da primeira vez estava numa fila paralela à minha o Tavares que é um miúdo fora de série, amigo da Familia e mal me viu ia-se a manifestar mas eu de imediato pus o dedo em frente da minha boca dando-lhe sinal que o Duarte não sabia nem podia saber que eu estava ali. Ele confirmou com o polegar.

Usei o Tavares como cúmplice, mandei-lhe uma msg pedindo que me informasse quando todos estivessem de regresso à sala para eu poder entrar em segurança, como de fato, foi eficaz e quando entrei o Duarte já estava na posição de iniciar a sua apresentação.

Apresentou com determinação e mesmo quando questionado pelo júri não se atrapalhou. Minha missão de mãe estava concluída sentindo-me em paz por ter feito o que a minha intuição me pediu para fazer.

Deixo esta indicação às mães: Sigam as orientações do vosso coração 

 

 

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