Ei-los à solta
Hoje fui à cabeleireira. Cabelo liso, comprido, castanho, nunca soube o que é um pingo de tinta ou que quer que seja. Aparentemente parece uma banalidade ir à Cabeleireira mas para mim não é, para mim é um acto heróico e de coragem, já estava com as pontas ligeiramente espigadas e se por natureza já custa dominar quando as pontas precisam de ser cortadas nem consigo descrever o que já não lhe consigo fazer!
Louvo a arte de trabalhar com cabelo, estes profissionais necessitam de sensibilidade, criatividade, toque, entrega, deixar fluir os seus dotes e eu admiro tudo o que se faz assim, são características fiéis da perfeição e realmente fazem-se trabalhos incríveis que me deixam de cabeça à roda como é possível a sensibilidade tão apurada para tamanha arte que tão pouco tempo dura, dias ou horas mas como se pode repetir as vezes que se quiser louvo também quem consegue ter paciência para as idas à cabeleireira.
É que perante esta descrição admito que não tenho a mínima coragem de cortar um único cabelo, nem a brincar nunca o fiz, tenho a impressão que se alguma vez o tentasse a tesoura ganharia vida diabólica e faria uma grande travessura.
Não gosto de ir à cabeleireira e também não tenho paciência, por tal é que para mim é um ato heróico e de coragem. Deixo-me chegar até à última até ao ponto de não conseguir fazer nada dele é que às vezes espiga como uma touceira de salsa, fica sem jeiteira nenhuma, diga-se que quando o meu cabelo anda nessa fase é um problema muito grande que tenho de enfrentar e engonho por várias semanas até não poder mais, já tentei estratégias mas não funcionam. A cabeleireira até já me sugeriu que marcasse na agenda uma vez por mês para me sentir com aquela responsabilidade mas tenho de admitir que nisto sou uma desgraçada de uma irresponsável!
Presumo que haja outras pessoas que assim pensem, talvez uma minoria uma vez que quase todo o ser humano terá a sua vaidade e que será tão diversificada mas cada um sabe de sim, faz o que mais gosta e foca-se naquilo que mais gosto lhe dará, nada contra! Muito respeito pelas opiniões e opções dos outros assim espero para comigo.
Já me manifestei perante outras pessoas que não tenho paciência para ir à Cabeleireira e de imediato franziram a teste, arregaçando a parte direita do lábio superior como se eu fosse uma aberração descaindo de imediato o lábio fixando-se em mim de olhos ampliados para me verem bem e a seguir dizem-me umas palavras desprezantes como se eu fosse uma pessoa deveras estranha, o que é facto é que eu não tenho paciência para estar naquele processo de esperar, sentar para lavar, depois passar para outra cadeira com espelho, a seguir a fatídica pergunta “como vamos cortar” eu respondo que não sei e peço que mantenha o que está porque está bem e gosto assim.
Encantadoras profissionais que tratam de mim, são bastante simpáticas e delicadas comigo, até porque quando entro aviso logo que estou com pressa e acabo por confessar que tenho pressa porque não gosto de ali estar, onde quer que seja e creio até que devo conhecê-las quase todas porque não me consigo fidelizar a nenhuma.
Compreendo que é inevitável a comunicação entre duas pessoas que estão num contacto físico tão próximo e como é um encontro casual é normal que o diálogo seja perguntas ou respostas ou observações vagas, perfeitamente de acordo mas o problema está mesmo em mim, como não gosto de lá estar implico com tudo e por vezes digo “desculpe mas não ouço com o barulho do secador”. Um alivio por momentos, ao dizer isto o diálogo não acontece.
Queridas cabeleireiras de mim: “Desculpem e tenham lá paciência comigo, sou assim, sabem lá as paredes que trepo para ir aos vossos salões e verdade que me fazem falta”