Em queda livre
23 de Dezembro e não escrevo sobre o Natal, talvez escreva outro dia mas hoje não, hoje faz um mês que a uns oitenta centimetros do chão me desequilibrei e caí de costas em queda livre, estatelada, ali, no chão de tábuas. Antes de chegar ao chão o meu pensamento focou-se nas costas que há tantas semanas me doíam, chego ao chão tipo de um cartoon, de chapa, um braço para cada lado, o corpo não doeu em nada, porém o meu pensamento sai das costas diretamente para o meu braço esquerdo, senti que tinha partido, levanto-me de imediato e agarro no pulso, vi-o a encolher e a torcer-se, senti uma tristeza enorme naquele momento
As dores chegam, a azáfama de procurar ajuda médica de emergência, alguém fala em chamar uma ambulância, apavorei só de pensar no tempo que iria levar sabendo que podia ir no meu carro e fui, pedi que ligassem os piscas todos do carro, pedi emergência!
No hospital senti nos primeiros momentos que era uma paciente como se fosse com uma ligeira indisposição mas pouco depois o meu aspecto mostrou que precisava de assistência urgente.
As dores estavam ímpossiveis de aguentar ao ponto de as deixar de sentir por serem tão fortes, sentia-me a desfalecer, não conseguia falar, não abria os olhos, ouvi um enfermeiro: "Ahh vamos já pôr um catéter e administrar um medicamento um pouco mais forte que a morfina e ela ja vai deixar de sentir as dores", em seguida apaguei-me totalmente.
Quando comecei a despertar e ainda debaixo do efeito daquela poderosa dose não percebia onde estava mas muito devagarinho recuperei, passado um pouco vem uma senhora que também estava nas urgências ter comigo e diz-me "olhe menina agora já estou a gostar da sua cara, nota-se que está melhor é que há bocado parecia uma defunta, as melhoras", aqui é que percebi o aspecto que eu teria tido, aquelas figuras que saem ao natural, são tão reais que é ímpossivel emitar (defunta?!) possas!
No primeiro RX gritei que me fartei a senhora queria que eu pusesse o braço numa posição que lhe dava jeito mas a mim não me convinha nada, tentou ser simpática mas não sabia ser, senti-a um pouco desengoçada mal eu sabia que tinha de lá voltar.
Radio partido e osso esmigalhado e não é que vem o senhor doutor acompanhado por um enfermeiro, levam-me para uma sala, fecham as cortinas e puxam pelo polegar assim sem mais nem menos, epá! gritei, gritei até que não dava mais, parecia que me iam matar, achei que estavam os dois loucos, eu só queria sair dali, abriram a cortina e voltei a novos exames, o osso não tinha ido ao lugar, só aí percebi o que eles queriam ter feito, é que o osso não ter ido ao lugar significava uma ida ao bloco operatório!
Fui uma sortuda, bloco liberado, anastesista à espera e um ortopedista disponivel para mim. Uma senhora veio-me buscar e preparou-me, tirou-me a roupa toda antes fiz alguns exames, estava prestes a ser operada e eu só pensava que tinha saído de casa de manhã com um proprósito que nada tinha a ver com aquilo que estava a viver. Entro na sala de cirurgias.
A equipa foi fantástica, carregados de humor, de cumplicidade e quando dei por mim estava na sala do recobro, foi horrível, tinha frio, tremia muito, imensas dores, o acordar da anastesia com o abre-fecha dos olhos, o consciente a querer chegar, ali foi um momento de sofrimento muito complicado de gerir, de suportar mas verdade que nos momentos certos aparecia um anjo de um enfemeiro que adivinhava tudo o que eu precisava, anjo que não sei o nome. Obrigada Anjo pela almofada, pelas doses para atenuar as dores, pelo carinho, pelos telefonemas para resolver sobre as lentes que ainda tinha, pois, operada com lentes nos olhos, então eu lembrava-me lá agora que as tinha, eu sabia lá agora quando saí de casa de manhã que ia ali a parar.
Quase às dez da noite levam-me para uma enfermaria, perfeitamente estabilizada, quase sem dores, estava tranquila, estava bem, senti-me confortável, passei uma noite fantástica, só queria era dormir e fez-me tão mas tão bem dormirzzzzzzzzzzzzzzzz......
A sorte da raposa é isto, fui uma sortuda, se partisse uma perna seria pior, se fosse o braço direito seria pior, se não tivesse caído ainda hoje me doíam as costas, todos se disponibilizaram para mim e tanto precisei = Grata a todos
Esta queda foi um sinal de que tinha de parar o ritmo de vida, demasiada actividade, meu corpo dava sinais, não o quis ouvir até que fez uma birra que se fez ouvir e disse: "Finalmente páras", o meu corpo tinha razão.
Agora sempre que ouço alguém a queixar-se das costas digo de imediato: "cai em queda livre de costas que isso passa"