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A Sorte da Raposa

Partilha de emoções, experiências, reflexões ❤

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Há Leão na cidade

20.07.23, Dulce Ruano

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Em seguimento a uma noticia que saiu hoje do avistamento duma Leoa nos arredores de Berlin, filmada na hora da refeição a comer, supostamente, um javali, trouxe-me à memória uma cena sobre um Leão à solta em Lisboa.

A pedido extra do patrão da empresa onde meu pai trabalhava, tinha de levar um pequeno carregamento de tecidos e acessórios a uma fábrica à entrada de Lisboa, era dia de semana, eu estava de férias da Páscoa, teria uns 10/11 anos, não tinha nada para fazer e meu pai levou-me com ele, fomos de manhãzinha pela fresca, chegámos ao meio dia, se hoje precisamos de 2 horas e um quarto naquela época eram precisas 6 horas para se chegar à capital.

Estava um dia bastante quente, os vidros da camioneta iam abertos totalmente, meu pai evitava de parar para não perder tempo, teria de chegar lá, descarregar, tratar da papelada, guias de remessa e uns recados, de seguida voltávamos para casa. No regresso tinha direito a uma paragem para meter combustível e esticar as pernas.

Nas viagens meu pai ligava o rádio e à medida que nos distanciávamos da nossa origem era preciso sintonizar a estação das zonas onde íamos passando, ouvíamos música, cantávamos e a cada hora surgiam noticias, a parte que eu menos gostava.

Ao fim de 6 horas sem parar ia desesperada para esticar as pernas, não via a hora de chegar à fábrica, movimentar-me e entrar naquele grande armazém onde íamos entregar a carga, porém uns minutos antes de chegar, batia o meio dia na rádio, chega a primeira noticia que dizia “Alerta para a cidade de Lisboa, encontra-se um Leão à solta, mantenham-se atentos, as autoridades já estão no terreno na tentativa de captura do animal”.

Meu pai aumentou o volume do rádio, olhámos um para o outro, arregalámos os olhos e mostrámos medo, fiquei branca, cheia de calor e com tonturas, parte culpa do sol que escaldava, outra parte era medo, muito medo, a esperança é que estava dentro da camioneta e o Leão não me atacava.

Entretanto chegámos à fábrica, meu pai saiu, entregou as guias e vieram uns homens a descarregar a camioneta, eu mantive-me no assento onde já vinha há 6 horas, não fosse o jubas aparecer, não pensei mais nas dores das articulações, só pensava em me proteger e temia pelo meu pai, pedi-lhe que fosse tudo rápido para regressarmos a casa.

Vi o meu pai incomodado com a situação, eu cheia de medo de ser atacada pelo feroz bicho, gostava muito de leões mas a cidade não era o seu habitat pelo que o seu comportamento era incerto, ao mesmo tempo temia pelas outras pessoas, quem seriam aquelas que o iam enfrentar ou ele atacar, estava assustada e só queria regressar pelo que mantivemos o rádio ligado para nos atualizarmos das noticias e achar que a todo o momento vinha alguma de desgraça.

Pouco tempo depois de iniciarmos o regresso veio novo bloco de noticias em que diziam “Não temam o encontro com o Leão, feliz dia das mentiras, hoje é 1 de Abril ….”, cruzámos os olhares, mandámos os ombros para trás em sintonia e as quatro sobrancelhas levantaram ao mesmo tempo, voltei a ter sangue a circular pelo corpo e o meu pai soltou uma enorme gargalhada, de alivio, que eu sei.

Naquela época não se ouvia falar da tradição francesa que já vem do Séc. XVI devido á mudança de calendário Juliano para Gregoriano, no interior as coisas demoravam mais tempo a chegar principalmente as supérfluas, mal chegámos ao Porto Alto meu pai encostou a camioneta e finalmente saí. Foi um dia de aprendizagem e de crescimento.

Sempre ouvi dizer que quando viajamos regressamos diferentes!

 

 

 

 

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