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A Sorte da Raposa

Partilha de emoções, experiências, reflexões ❤

A Sorte da Raposa

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Noite agitada no jardim

11.08.20, Dulce Ruano

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Há uns anos quando os miúdos tinham uns 5 e 8 anos por aí, decidimos passar uma noite na tenda de campismo mas não propriamente num parque.
 
Era verão, tempo de férias escolares porém ainda tinhamos de trabalhar, estávamos numa quarta ou quinta-feira e montámos a barraca no jardim a uns metros da porta de casa.
 
Instalou-se um pandemónio à volta deste acampamento, começámos por montar a tenda no final da tarde, levámos as colchonetes e os sacos cama, como estávamos perto de casa usámos as almofadas da cama, os meninos, habituados a ler antes de dormir quiseram levar um livro e contar umas histórias mas depois cada um entendeu levar o seu próprio livro e cada um não sabia bem que livro especial deveria levar, afinal estariamos ali confinados a uma tenda tipo iglô e aquilo era especial, como não decidiamos a escolha do livro, quando demos por ela cada um tinha uma pilha de livros dentro da tenda, parecia uma biblioteca, parecia que iamos mudar de casa e tinhamos livros para um ano inteiro.
 
Depois dos livros estarem nos lugares respetivos de cada um lembrámo-nos que quando chegasse a hora da leitura já seria de noite e para tal precisávamos de luz, lanternas não seria a melhor opção, era preciso segurá-las e além de que seriam necessárárias 4 o que iria dar uma grande confusão num espaço tão pequeno até que alguém se lembra que se puséssemos um candeeiro de uma mesinha de cabeceira daria luz a todos.
 
Já com o candeeiro dentro da tenda percebemos que nos faltava uma tomada, fomos então buscar uma extensão eléctrica de vinte metros, era um corre corre a caminho de casa a buscar coisas que nos estávamos sempre a lembrar.
 
Juntámos as pilhas dos livros, fizémos um suporte para o candeeiro, deitámo-nos nos respetivos lugares feitos nuns intelectuais a tentar ler alguma coisa mas ninguém leu nada, ora empurra daqui, ora empurra dali, ora porque estás com a perna de cima da minha, ora porque chega para lá o braço, ora porque me estás a fazer sombra e não consigo ler, ora porque está aqui calor, ora porque não vos calais, ora porque o mano está-me a chatear, ora, porque mentira ele é que começou, bem, começou-se a instalar um ambiente insuportável ao ponto de quase andarmos à porrada, no final acabou numa louca diversão uns em cima dos outros e numa grande galhofada até às tantas, o pior era para o pai e mãe que tinham de se levantar cedo para ir trabalhar.
 
Está claro que ninguém leu nada e os livros só nos ocupavam espaço achámos que seria hora de desligar a luz e tentar dormir, o pior foi passado uns minutos que eu me lembro que o candeeiro e a extensão tinham de sair de dentro da tenda porque durante a noite podia haver um curto circuito e provocar um incêndio o que nos levaria a ficar esturrados, só imaginava a extensão começar a arder e a tenda ser o combustível perfeito para se dar a tragédia, sair dali ileso seria a missão impossível pelo que perante um cenário destes instala-se de novo o caos, um queria o candeeiro, outro não queria, outro achava que eu só inventava cenas maradas, outro dizia porque não vos calais, o ambiente estava tão pesado que só faltava andarmos à chapada uns aos outros, que macacada pegada ali ia dentro.
 
Creio que adormecemos devido à exaustão da confusão, já não dava mais, quatro pessoas dentro de um iglô montado mesmo à porta de casa teria que dar nisto além de que as milhares de vezes que cada um foi a casa e voltou e tornava a ir porque se esquecia de algo, voltava, ia e voltava porque era só mais uma coisa!
 
Tínhamos montado a tenda na relva junto ao muro da casa e do lado contrário está o fim da rua, já dormíamos profundamente quando por volta das três da manhã acordamos todos com um estrondo horrível, parecia o fim do mundo, completamente estonteados sem saber onde estávamos e o que se passava à nossa volta.
 
Por alguns segundos percebemos que estávamos no nosso acampamento privado e que por coincidência estava a acontecer um tremor de terra, completamente aterrorizados com o barulho que ouvíamos, logo naquela noite aquele fenómeno estava a acontecer.
 
De repente o barulho mudou de tom e enquanto isso já com os sentidos mais despertos para a realidade percebemos que aquela barulheira toda era só o camião do lixo que fazia a recolha do contentor que estava mesmo por trás do muro da nossa casa. Que loucura!
 
Um dos objetos que tinha levado era um despertador que às sete da manhã me deu o sinal que teria de acordar e ir trabalhar, tive a sensação que tinha sido atropelada por um enorme camião, sentia-me toda partida e cheia, muito cheia de sono, tinha sido uma noite super agitada e estava completamente de rastos, levantei-me e eles ainda ficaram todos a dormir, entrei em casa, preparei-me e só eu sei o que me custou ir trabalhar.
 
A primeira hora de trabalho foi muito dificil, bocejava discretamente, lia os mails, abria os programas, tentava organizar o trabalho e num momento dum bocejo mais preguiçoso, um colega viu, mete-se comigo e diz "Atão, isso é sono, que andaste a fazer de noite?", olhei para ele de esguelha e disse-lhe "Aiii nem me digas nada, estou morta de sono, olha que abri a porta de casa eram sete da manhã" e ele diz "Fogooo, durante a semana é que andas nas noitadas? não me digas que tás com uma direta, mas por andaste tu toda a noite?" Apeteceu-me bater-lhe, sabia lá ele a minha aventura noturna mas depois só nos deu para rir quando lhe contei, passou o dia todo no gozo comigo!
Depois desta experiência resolvemos não voltar a acampar à volta da casa, para emoções fortes já tinha chegado aquela experiência 
 
Nota: Foto retirada de AliExpress
 
 

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