O bicho somenos
Uma coisa somenos à vista desarmada instalou-se no mundo, no mundo fisico de todos nós, monstro invisível que nem se lhe vêem os olhos. Um ser reduzido ao ínfimo tamanho que domina um planeta por inteiro e no mesmo pé de igualdade, não há armas nem tanques de guerra nem bombas de que forma ou dimensão sejam que o atinjam, este inimigo é diferente de todos que a nossa história conhece por tal, resta-nos a sapiência dos profissionais de saúde e responsabilidade individual.
A contribuição é de todos, mas todos sem excepção, cada um terá a sensibilidade de perceber que as suas atitudes não são só em prol do seu bem mas do bem de todos.
Todos, e sem excluir um único, passámos de repente a ser todos iguais, somos de todas as raças, de todas as cores, de todos os tamanhos, de todos os meios, é como que passámos a ser um todo num único apenas. A verdade é que talvez deveria ser sempre assim, olhármos por nós mas com alcance no outro.
As pessoas vivem num frenesim, numa competição entre elas, ter mais, ganhar mais, ser o melhor e de repente damo-nos conta que ficamos todos iguais, assim de repente sem contarmos, sem prevenirmos, confinamos ao espaço das nossas casas com as restrições impostas e com todas as dificuldades acrescidas a este isolamento mas necessário para combater o inimigo ínvisivel, este desgraçado que não nos permite escondermo-nos de trás de uma porta ou debaixo de uma mesa, este inimigo que não faz barulho, nem se sente quando se aproxima de forma a expelir o seu contacto.
Este inimigo, este ser somenos que nos distancia uns dos outros, que estranho é fazer uma fugida às compras e encontrar alguém que não vê há tempo ou alguém que se gosta muito e não poder dar um beijo ou abraçar, ou apenas um aperto de mãos, que estranho que é isto, que estranho passarmos por alguém e nos darem distância, parecemos uns seres estranhos, frios, indiferentes, sim, só parecemos, mas não o somos, a cumplicidade, a preocupação também pelos outros, o calor entre as pessoas em todo o mundo manifesta-se
Este somenos invadiu-nos a ponto de alterarmos totalmente as nossas vidas, de nos tirar das rotinas, das nossas ações, pensamentos, de repente dá-nos oportunidade de mudar mentalidades, fazer a reviravolta nas nossas vidas, negócios que fecham outros que têm agora uma grande oportunidade, outros que hão-de abrir e outros que se adaptam, as escolas fechadas, alunos com ensino à distância e os que não têm internet? e os que não têm um computador? e professores nas mesmas condições?
Mas há mais, muito mais, familias fechadas em casa com crianças pequenas, com animais, com doentes fisicos, com doentes mentais, excasseio de dinheiro, de alimentos, homens e mulheres violentos, mulheres grávidas que desejariam ter um final de gravidez sereno em convivio com a sua Familia, fazerem as suas caminhadas, pessoas a perder empregos, hábitos do futebol, religiosos, rotinas trocadas, consultas e exames cancelados, doenças por tratar, dúvidas, incertezas, medo, angústia, ansiedade e tantas, tantas, tantas outras coisas...
Provas, espectáculos, campeonatos, projectos, eventos públicos, privados, tudo mas tudo adiado, sem se saber como vai ser, como vão colocar novamente no calendário, nada mesmo nada se sabe, excepto uma coisa que se sabe: o mundo mudou, a vida de todos será diferente, há que adaptar, demover, mover e ajustar.
Talvez o mundo estivesse a precisar duma reviravolta, já há muito que pedia calma, começava a ter as costuras abertas, de tal ordem que se vê os níveis de poluição bastante baixos, que se vê as águas cristalinas, que se vê animais selvagens a entrar no espaço urbano, que se vê o valor humano, o valor das suas atitudes e de novas orientações de vida, mudança de perspectivas, quebra de hábitos, o ganho de outros.
"Vamos ficar todos bem " passou a ser uma frase de discórdia, há quem a defenda e há quem a declina, compreendo os dois lados, claro que não vamos ficar todos bem, a crise economica está garantida e ninguém sabe a dimensão que irá atingir, vamos sofrer todos, direta ou indiretamente, a crise social será derradeira, pessoalmente nem sei se tenho mais medo do vírus ou do que está para acontecer depois. Sejamos fortes para ver e enfrentar, este é o outro lado da frase, o lado positivo, a esperança de ficarmos bem, é bom sentirmos nem que seja iludindo-nos de que vamos ficar bem, é uma espécie de força otimista que por vezes precisamos perante uma adversidade.
Vamos sim, mudar, preparemo-nos.
Com isto até já pensei que a partir de agora passarei a comprar o ketchup no mesmo sitio onde compro a maionese!
❤️ ❤️ ❤️
Nota: A foto não é minha, desconheço o autor, alguém me enviou.