O bolo e as velas do vizinho
Meu vizinho Tomás, fez 10 anos de vida. Apesar do Tomás compreender o estado de emergência que vivemos atualmente em todo o mundo, não deixa de ser uma criança que aspira pelos seus sonhos, pelas suas emoções e sabemos lá nós o que vai na cabeça desta e todas as crianças nesta fase pandémica em que estamos todos.
Se de uma forma geral sentimos alguma euforia e emoção no dia do nosso aniversário acredito que uma criança tenha atualmente um misto de emoções entre a alegria e a apatia pelo seu dia especial, Tomás não será diferente e este ano percebeu que não poderia ter uma celebração como habitualmente a sua Familia lhe proporciona.
Seu aniversário estava confinado ao ambiente familiar junto do pai e da mãe e uma chamada de vídeo com os tios e os avós, sem dúvida uma riqueza perante tantas realidades tristes de outras crianças, admito que sim mas esta é a realidade de Tomás.
Vivemos uma fase de contenção muito grande, fisicamente afastados uns dos outros e temos consciência que é a forma de minimizar o impacto deste desgraçado vírus que nos quer dominar, ainda assim temos de ativar mecanismos de defesa em nós para não cairmos na desgraça da depressão ou de profunda tristeza e isto fez-me pensar muito no Tomás em particular por ser o seu dia, verdade que não teve a festa com a Familia e amigos mas há sempre formas de proporcionar um miminho e momentos únicos, fazer diferente.
Aproveitando a oportunidade de comprar uns bens alimentares que precisava de repor, trouxe-lhe um presente que embrulhei em casa, combinei com a minha vizinha um sinal de quando terminassem o jantar para nos aproximarmos do muro que separa as nossas casas sem que Tomás soubesse, assim que demos o sinal fomos os quatro para a rua com o presente e uma pequena lanterna com três pequenas luzes, baixámo-nos atrás do muro e assim que Tomás aparece com os pais surgimos de trás do muro a cantar-lhe os Parabéns, de seguida ele desligou a lanterna.
Assim, a lanterna fez de bolo e as luzinhas fizeram de velas, recebeu o nosso presente e conversámos à distância de alguns metros uns dos outros sobre como tinha sido o seu dia, no final ainda nos deliciámos com uns bolinhos de côco que a mãe de Tomás tinha feito para celebrar
A mensagem que deixo é que podemos dar continuidade às nossas tarefas alterando os modelos que temos standarizados na nossa vida registando-os como únicos e especiais e que ficarão na nossa memória como momentos bons. Reiventemo-nos para bem de cada um e de todos.
Somos todos um único e vamos ficar todos bem