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A Sorte da Raposa

Partilha de emoções, experiências, reflexões ❤

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O primeiro na sala de cinema

07.07.23, Dulce Ruano

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Não me recordo exatamente a idade que tinha quando entrei pela primeira vez numa sala de cinema mas aposto nos 12 ou nos 13 anos de vida.

Era uma espécie de tabu para uma pré adolescente entrar num sitio destes, na minha cidade havia um cinema, sala emblemática, de uma bela arquitetura e forrada a veludos de cor bordeaux, com pouca luminosidade e envolta de intimidade e misticismo. Cada um a veja como quiser, esta é a forma como eu via.

Não havia produções cinematográficas para crianças ou pré adolescentes como eu, ou melhor, se as havia nunca chegavam ao interior do país, não havia público para isso, ou melhor, haver até havia, porém as mentalidades não eram como são hoje que se levam os filhos a todo o lado e a ver tudo.

Desta forma, uma coisa era certa, tão depressa nos próximos anos da minha vida não entraria numa sala de cinema e as minhas questões eram muitas, como seria estar dentro duma sala de cinema? Como são os assentos? Como é ver um filme numa tela gigante? Que impacto visual e auditivo vou sentir? Que sensações e emoções terei e de que forma vou reagir?

Não tinha como ir, no meu seio familiar nem se pensava nisso e os filmes em exibição eram normalmente para M16, M18 e M21, eu ainda tardava a ter autonomia e idade para isto!

Andava na Escola Secundária Campos Melo, lugar que tanto me ensinou, escola maravilhosa que sinto muitas saudades, com corredores e escadarias em mármore branco, corrimões de madeira escura, não tinha pavilhão desportivo mas tinha oficinas de mecânica, eletricidade e laboratórios.

Uma vez a Associação de Estudantes, que já eram todos rapazolas de 17 e 18 anos, uns autênticos homens que até já tinham barba e eu muito respeito por eles por serem tão crescidos, conseguiram uma forma de levar a malta ao cinema.

Quando soube disto pelos corredores da escola vi a grande e única oportunidade que não podia perder, não tinha que dar satisfações em casa porque iria ser no tempo da escola, se desse não me deixavam ir, a sessão iria decorrer numa matiné de quarta-feira.

De tão emocionada não perguntei que filme iria passar, procurei por companhia pois seria impensável ir sozinha mas ninguém quis ir, nunca percebi porquê. Sentia-me nervosa e fraca, ir para um sitio daqueles sem companhia, sem saber o que iria ver, conhecer, enfrentar, será que dava com o meu lugar? Será que haveria luz suficiente para reconhecer o meu assento? Eram muitas questões na minha cabeça mas tinha de ir.

Quando dei por mim sentada naquela sala de cinema, senti um encanto enorme, uma felicidade tremenda, o quebrar duma barreira. A sala estava lotada, um grande burburinho, eu ali sentada sozinha sem ter ninguém para falar, desabafar, contar as emoções.

Antes do filme começar a ser exibido não me passou tão pouco pela cabeça o que iria ver, o que eu queria era estar ali, dentro daquela sala, perceber como era, o tipo de filme era o menos.

Apagam-se as luzes, a sala fica escura, tudo acalma, a tela gigante mostra a primeira imagem e de repente ouvem-se, de forma estrondosa, hélices de helicópteros que parecia estarem sob as nossas cabeças, vêm na nossa direção, entram pela sala adentro de rompante, ouvem-se sons de metralhadoras e explosivos.

Cenário de guerra, a música de fundo “This is the end…” abafa os sons das hélices e dos disparos, estava perante um filme de guerra a retratar os horrores passados no Vietnam, o surrealismo e a loucura da guerra, estava também perante a obra prima do mundo cinematográfico, Apocalipse Now! Francis Ford Copolla é Grande, muito grande!

Há muitos filmes incriveis, de grandes produções, mas este, o meu primeiro filme de cinema ficou-me cá no sangue, foi forte, foi uma grande estreia para mim e hoje encontrei a foto do grande homem que me levou a esta nostalgia.

Nota: Na foto, Francis Ford Copolla de braços cruzados enquanto o caos acontecia num set de filmagem em 1978

 

 

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