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A Sorte da Raposa

Partilha de emoções, experiências, reflexões ❤

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O regresso ao bloco

18.02.20, Dulce Ruano

Hospital.jpg

 

De regresso ao hospital. Placa pode romper o tendão e antes da desgraça maior há que passar por nova cirurgia, em parte parece igual à anterior porém tenho de admitir que é diferente, agora não tenho fratura, esta foi premeditada para correção. Não me apetecia nada passar por isto mas reconheço que tem de ser feito, as dores, o incómodo da placa a dar sinais sobre a minha carne, sobre o tendão, não está bem e temos de o pôr bem.

Período da manhã fiz exames, no fim da consulta de anastesia queriam que ficasse logo ali, internada, como não me agradou a idéia negociei a minha saída e o regresso para o mais tarde possível minimizando o tempo de estadia (que eu não queria mesmo!)

Deram-me a cama 24 junto à janela, nas outras estavam duas senhoras de idade, davam ares de veteranas por ali. Assim que entrei tiraram-me as medidas e a da cama 22 disse "Ohhh olha já cá temos uma menina connosco", mandei-lhe um sorriso. Comecei por tirar a minha agenda, um livro e organizei uns pormenores entre a mesa de apoio e o armário.

Entretanto a senhora da cama 21 recebe uma chamada, mais tarde percebi que ela era uma central telefónica, o telefone dela parecia uma motoserra num tom ensurdecedor além de que ela falava bastante alto, alguém familiar lhe teria ligado a quem dizia que uma tal pessoa não a ia visitar porque não tinha cabeça para se meter nisso, "que s'a cozesse" disse ela. Dizia a todos a quantos lhe telefonavam que estava bem, ninguém se preocupasse porém passava o dia e noite nesta lenga lenga: "ai a minha perna, ai a minha perna, ai a minha perna, ai a minha perna...

Pelo que percebi telefonava todos os dias para o marido às 7:30H da manhã, é que a senhora 22 resmungou: "Humm lá está ela outra vez a acordar o homem, coitado, não o deixa dormir", e a 21 dizia ao telefone alto e bom som: " ATÃO HOMEM, O QUE É QUE ESTÁS A FAZER?!" 

A senhora da cama 22 queria era conversa, reclamava da cama que fazia uns barulhos estranhos que até pareciam outra coisa, passava o tempo a olhar para mim, estávamos frente a frente, queria ser prestável mas não sabia como me cativar, até me explicou que o móvel de apoio abria para os dois lados, agradeci mas confesso que não estava com apetite de conversar com ninguém, não admitia mas sabia que estava um pouco nervosa, só queria que o tempo passasse depressa e começar a recuperar da cirurgia que ainda não tinha feito.

Estava com fome e muita sede mas não me deixavam saciar nem ao menos molhar a garganta que estava tão seca, tinha ainda de tomar um duche com um desinfectante, arghhh não me apetecia nadinha  

Acabei por ir para o bloco operatório duas horas antes do esperado, por um lado era alivio, por outro fui informando toda a gente que ia fugir a todo o instante, Ahhh e todos souberam que eu corro, não fosse estar lá de serviço um colega das corridas que fez alusão às minhas capacidades, por momentos pensei que todos acreditaram que ia mesmo fugir dali, não me largaram