Panela no Forno
Na minha rica cidade, a Covilhã, há comida muito boa e irresístivel, uma destas pérolas é a maravilhosa Panela no Forno, arroz com carnes incluíndo pedaços de dobrada e enchidos da região.
Em vários restaurantes costuma haver à sexta-feira, tenho um a poucos quilómetros do local de trabalho que faço questão de eleger como muito bom porém a última vez que contatei alteraram a ementa e não havia Panela no Forno. Fiquei com os tilins em baixo, não tirava a Panela da cabeça.
Por sugestão dum colega fui a um restaurante mais próximo, apesar do receio pois este prato é maravilhoso quando bem confecionado. Pedi uma dose individual para consumir fora, aguardei com uma ansiedade tremenda e nem era de necessidade fisiológica, era fome emocional, era uma vontade de saborear e sentir prazer em cada garfada com tais ricos sabores.
Entregaram-me uma couvette redonda devidamente acondicionada com a tampa, corri ao carro ávida da vida a fim de ir ao lugar de eleição para o deguste daquela Panela que vinha num prato de alumínio descartável.
A pouco mais de cem metros estaciono na sombra do enorme pinheiro, estava uma calma incrível, temperatura amena, baixei o vidro da porta do carro, puxei o assento todo para trás, coloquei um pano sobre as pernas, tiro o talher do porta luvas e à medida que estas pequenas tarefas iam acontecendo sentia-me a salivar por dentro, lânguida e numa espécie de êxtase para iniciar o processo que me iria dar um prazer do caneco.
Vou abrindo o prato de aluminio à volta para desprender a tampa, as pontas dos dedos iam perdendo a sensibilidade devido à rapidez com que os movimentava até que a levanto ….. os meus olhos passaram a órbitras espantadas e tristonhas, por momentos muito rápidos apeteceu-me chorar.
Coloquei a tampa de imediato, fechei o prato a toda a volta, senti todo o meu sistema muscular a descair de desilusão total.
A guarnição do prato vinha carregada (basta uma para ser uma mão cheia) daquelas coisas tão nojentas para mim, nem lhes gosto de apontar o nome mas vá, azeitonas, blarghhh.
Não gosto de azeitonas. E ponto.
De nada adianta, "Ahh e tal e são tão boas e não sabes o que perdes, ao menos provas para confirmar se gostas ou não, sabes lá o que é bom!". Epá! Poupem-me a estes comentários.
Não gosto e faço questão de não gostar! É que eu não quero gostar de azeitonas. Ponto outra vez.
Ao longo da minha vida tem sido um pavor nos restaurantes ou festas com catering, já me recusei a comer (mesmo com fome), já mandei comida para trás (apesar de ter alertado que não viesse com as ditas cujas) e uma vez, um senhor que servia a minha mesa a quem reclamei a travessa de carne assada carregada daquelas coisas teve a lata de as apanhar com as suas mãos e encatrafiou-as para dentro dos bolsos das calças e outra vez uma senhora desastrada inclinou uma bandeja na minha direção cheia de caroços roídos e espatifaram-se para cima de mim.
Teria aqui muita história para contar.
Fechei a couvette numa grande rapidez, pus os neurónios a dar opções do que havia de fazer:
- Não mexia mais naquilo, guardava para malta de casa comer ao jantar e eu ia ver de outra coisa.
- Com a ajuda do garfo deitava ali no chão toda a parte de cima na expectativa que surgisse um cão faminto e comia só a parte de baixo.
- Voltava ao restaurante, pedia desculpa pelo incómodo, explicava e pedia uma nova couvette.
Fiquei-me pela terceira opção. Volto ao restaurante informamdo logo o senhor que tinha um problema com a dose que acabara de levar.
Com a maior das latas disse-lhe que tenho alergia a azeitonas e que teria de me trocar a comida por outra diretamente da panela, aconselhei até que tivesse isso em consideração porque só onde elas pousam é o suficiente para fazerem mal, muito mal. Prontificou-se, senti que zelou pela minha segurança e fez ele muito bem.
Tenho a esperança de que o senhor do restaurante não leia isto e caso aconteça deixo-lhe esta informação: "Não é alergia fisica, é uma alergia psíquica o que por vezes não dá muito bons resultados, sinta-se de consciência tranquila porque foi uma boa ação do seu dia, ahh e já agora aproveito para lhe dizer que o novo prato que serviram não tive direito aos enchidos nem à salsa mas deixe lá, salvou-me o prazer de comer uma rica Panela do Forno à sombra do pinheiro que me soube mesmo bem".