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A Sorte da Raposa

Partilha de emoções, experiências, reflexões ❤

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Rabo de Peixe na Netflix

26.05.23, Dulce Ruano

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Rabo de Peixe. É como se de um lugar “sagrado” se tratasse.

Freguesia de Ribeira Grande, S. Miguel.

Há uns quatro anos assisti a um documentário na RTP1 sobre o que se passou em Rabo de Peixe em 2001, confesso que fiquei incomodada.

Quando visitei a ilha uns tempos depois, fiz por lá uma breve passagem, confesso que a experiência foi aterradora, o pouco tempo que lá estive passei-o a tremer, assustada, com medo mesmo, não via a hora de deixar o lugar, senti calafrio na espinha e mal saí senti um alivio do tipo “Ufa! Já me safei desta”.

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Agora que não estou lá fisicamente penso que talvez tenha sido exagerada no que senti, mas a verdade é que o medo na altura apoderou-se de mim, estando numa ilha como das mais bonitas do mundo, aquele lugar era inóspito e não pela condição física, mas pelo meio social que observava.

Atravessámos a vila, fomos pela rua de acesso ao cais ao lado dum muro a fazer paredes meias com o mar até chegarmos ao ancoradouro. Ao longo do muro havia imensos homens, rapazes e miúdos sentados, estavam descontraídos e com ar de quem estava à espera que o tempo passasse.

Muitos tinham a pontita da beata mesmo no calcar dos dedos médio e indicador, à medida que o nosso carro se deslocava, lentamente, era totalmente perseguido com os olhares deles, como se fossemos uns alienígenas em lugar terráqueo. Olhares assustadores, esbugalhados sobre nós.

O tempo para eles deve ser chato de passar, estavam ali sem fazer nada, pareciam bloqueados, moviam apenas os olhos em perseguição a nós. Entrámos no cais sem saber que a estrada não tinha saída, enchi-me de calores quando percebi que tínhamos de passar pela mesma rua para sair, evitei os seus olhares que continuavam em cima de nós. Mais à frente havia casas, uma capela, um tasco e mesmo aqui havia homens e rapazes sentados no chão, encostados às paredes, pernas fletidas, com ar tristonho e enfadonho de quem não tem nada para fazer.

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Pobreza, analfabetismo ou um mundo à parte, mas não é esta a história de Rabo de Peixe.

Em 2001 um traficante italiano vindo da Venezuela foi forçado a fazer uma paragem no meio do Atlântico ao largo dos Açores devido a um problema técnico, o veleiro sofreu um naufrágio e a meia tonelada de cocaína naufragou até à costa.

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Os fardos foram dando à costa e desencadearam uma corrida ao ouro, à loucura desenfreada, à ruína da maioria dos que se lançaram à pesca do, mal eles sabiam, infortúnio de suas vidas, para alguns, claro, pois para outros foi uma benesse.

Uns levaram com fartura para casa e snifaram à grande e à francesa, outros, com olho na fortuna, fizeram negócio e tornaram-se ricos. A maior parte consumiu e em doses elevadas, muitos morreram com overdose, suicídio, aventuras voadoras por acharem que podiam voar e outros transformaram-se em coisas estranhas, entretanto as gerações seguintes parecem ter marcas passadas pelos seus progenitores.

A pureza da cocaína superior a 80% provocou efeitos devastadores tanto físicos como mentais levando às mais loucas extravagâncias como as senhoras a empanarem carapaus com o pó branco como se fosse farinha e senhores de meia idade deitavam colheres do pó no café com leite. Além das mortes houve internamentos por overdose chegando ao ponto de colapsarem os hospitais da ilha.

No inicio foram semanas de terror, pânico e descontrolo total.

Uma realidade horrível, um autêntico pesadelo disfarçado de sonho, triste, aquilo que de repente parecia o paraíso transforma-se num inferno, mudanças para sempre e nada boas.

Ainda assim, Rabo de Peixe é uma vila com carisma, bonita, tem muita cor, muita vida e até muita energia apesar da morbidez com que nos deparámos naquele muro a caminho do cais.

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A Netflix disponibiliza hoje a série “Rabo de Peixe”, vou ver, com toda a certeza.

Nota: Imagens de pesquisa google

 

 

                  

 

 

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