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A Sorte da Raposa

Partilha de emoções, experiências, reflexões ❤

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Rebeldes indomáveis

11.01.21, Dulce Ruano

 

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Quando teenager, aquela fase dos namoriscos, dos amores, desamores, da beleza de teenager, pessoalmente achava-me uma desgraça, tão pouco aqui vou desabafar lamúrias porém, e de uma forma particular, sentia-me uma miserável com os jeitos ou os não jeitos do meu cabelo, rebelde até mais não aguentar, totalmente indomável, é que era um cabelo aparentemente liso mas o desgraçado tinha uns jeitos e umas manhas que me tiravam do sério e acabaram por ser um degredo na minha vida que tanta auto estima me tiraram, safados, tanta energia gasta à volta deles, tanto paparico, confesso que várias vezes me tentei inspirar na Sinéad O’Connor mas ao mesmo tempo algo me fazia faltar a coragem, acho que alguns anos mais tarde percebi porquê.

 

Todos os dias que saía de casa era um tormento, só ficava razoavelmente com algum aspeto de jeito se o esticasse mas fazer isso todos os dias era duro, ainda assim houve uma época em que o lavava todos os dias, esticava mas depois percebi que a vida era mais do que isso e desarmei-me ao ponto de continuar no desespero do maldito cabelo que não dava tréguas.

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Experimentei vários cortes, modelos, porém não acertava com nenhum, um dia cortei-o curto a correr pelo pescoço, nessa altura era secretaria do administrador da empresa onde trabalhava e no dia seguinte ao corte, assim que entro no seu gabinete olha para mim, faz um sorriso amarelo e diz: “Ehh lá, o seu corte de cabelo faz lembrar um galo” confesso que cacarejei, mediante isto não voltei a apostar em modelos, decidi que ficaria para sempre comprido e direito. Tinha acabado de passar uma vergonha terrível e desesperei para que crescesse rápido.

 

Um dia, talvez com uns dezanove anos fui a uma cabeleireira daquelas famosas pela sua qualidade de trabalho e que era frequentada pela nata rica da cidade, praticava preços mais altos, era cara ainda assim achei que valeria a pena. Lavam-me o cabelo e já em frente ao espelho a pergunta habitual “como vamos cortar” respondi que umas pontitas, confesso que não sabia que havia de dizer por mais revistas especializadas que consultasse e acrescentei que depois de secar que gostaria me fizesse uma espécie de ondulações para lhe dar um pouco de consistência e corpo, naquele momento imaginava-me sair dali tipo duma princesa.

 

Folheei umas revistas enquanto a senhora fazia o seu trabalho até que quando dou por ela tinha umas coisas na cabeça que me faziam lembrar os ossos que as mulheres dos primórdios usavam para segurar o cabelo, uma espécie de bilros ou que era aquilo e pede-me para me dirigir com a cabeça para dentro de uma máquina com forma de um ovo gigante, achei aquilo tudo estranho mas preferi não dizer nada, digamos que me entreguei totalmente às mãos e ideias da senhora, podia ser que ela fosse desvendar a arma secreta do indomável.

 

Estive dentro daquele ovo uma catrafada de tempo e senti muito calor, ia estornicando os miolos mas deixei-me estar, tentei confiar até que quando me pede para sair tira os bilros todos e o meu cabelo estava totalmente encarapinhado.

Tive uma certa vontade de a esfaquear, engoli em seco e dei-me como culpada frustrada, percebi que o mal estava feito e de nada adiantaria reclamar tendo em conta que uma certa parte foi culpa minha que podia ter travado a tempo, doeu-me o coração quando fui pagar, aquilo custou-me uma pequena fortuna!

 

Saí dali tentando me confortar com pensamentos de que pelo menos durante algum tempo não tinha de passar 50 minutos todos os dias a esticar o cabelo e o quanto seria cómoda a minha vida durante uma temporada ainda assim senti que alguma coisa não estava bem, só não sabia o quê.

 

Uns dois depois, intrigada com o que sentia de estranho, lavei o cabelo, quando percebo que o tinha todo queimado, melhor, estava estornicado, fartei-me de chorar, sentia uma bola a ser esmagada pelos músculos da minha garganta e sim, se estivesse à frente da cabeleireira cortava-a às postas, meti-me no autocarro e fui ter com ela, pediu-me desculpas e disse que a única solução era cortar rente. O que eu chorei!

 

Chorei e chorei mesmo muito porque daí uns quinze dias mais ou menos iria realizar-se o casamento do meu tio Ben e eu como teenager queria era arrasar naquela festa, tinha então comprado um casaco do último grito da moda, feito por encomenda a um estilista que lhe fez uma aba a toda a volta bordada à mão, que charmoso e lindo que era.

 

Nos últimos quinze dias o meu cabelo tinha crescido uns míseros milímetros porém foi necessário acertá-lo, ou melhor, apará-lo de novo de forma que ficou a uns 5 mm de altura o que me levou a deitar-lhe um pote de gel para cima. Ficou todo espetado, fazia-me lembrar os punks dos anos 80 quando surgiram com os seus efeitos de cristas meio galináceas.

 

Que nesse casamento todos me diziam que estava elegantemente vestida, lá isso foi mas creio que não houve ninguém que não perguntasse que loucura tinha sido a minha em cortar o cabelo à recruta, houve até quem me dissesse que podia ter esperado que passasse a grande festa do casamento! Enfim! O que uma pessoa às vezes passa!

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OBS.: Imagens recolhidas duma rede social

 

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